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Taxas das debêntures caem com forte demanda de investidores

As mais recentes emissões de debêntures e notas promissórias mostram que os juros desses títulos estão em queda e, em alguns casos, já estão abaixo do patamar anterior à crise.

 A Bradespar acaba de fechar uma emissão de R$ 800 milhões, pagando juros abaixo do que esperava e do que pagou no início do ano e em 2008. As debêntures da primeira série, com prazo de um ano, no valor de R$ 140 milhões, renderão 105% da variação do Certificado de Depósito Interbancário (CDI). Já os papéis da segunda série, de R$ 660 milhões e prazo de dois anos, saíram a 108% do CDI. Em janeiro, a empresa emitiu R$ 610 milhões em debêntures e pagou 125% do CDI; também em janeiro, emitiu R$ 690 milhões em notas promissórias oferecendo 110%.
 
As taxas das debêntures foram formadas após coleta de intenções de investimento no mercado (bookbuilding) realizado na semana passada. Antes dessa consulta, a Bradespar previa que poderia pagar até 112% na primeira série e 115% na segunda.
 
Na sexta-feira, o mesmo aconteceu com a Votorantim Finanças. A empresa emitiu R$ 1,05 bilhão em notas promissórias de 180 dias, pagando 109% do CDI, abaixo dos 114% previstos.
 
No pior momento da crise, no final de 2008, algumas companhias chegaram a oferecer mais de 150% do CDI para emitir notas e a média das taxas para debêntures estava em 120% do CDI.
 
“As taxas dos títulos privados fecharam por dois motivos. O piso do juro da economia caiu com o recuo da taxa Selic e a demanda por papéis privados é grande”, disse o superintendente geral da Associação Nacional das Instituições do Mercado Financeiro (Andima), Paulo Sampaio.
 
Os investidores, especialmente os institucionais, querem alternativas rentáveis de investimento. Na emissão da Elektro Eletricidade e Serviços, de R$ 300 milhões, encerrada anteontem, teve até demanda de investidor estrangeiro, fato raro no mercado de debêntures. Além disso, oito pessoas físicas participaram. Muitas das novas emissões têm saído com uma tranche para esse público, que também anda procurando maior rentabilidade.
 
Denise Pavarina, diretora-gerente do mercado de capitais do Bradesco Banco de Investimento (BBI), um dos bancos mais ativos nas emissões de debêntures, destaca que o mercado começa a voltar à normalidade. As taxas estão caindo e podem cair mais, diz a executiva. Mas não devem, no geral, voltar para os níveis anteriores à crise, período em que a liquidez do mercado estava muito alta. Algumas empresas chegaram a pagar apenas 101% do CDI nas emissões. Com a piora do cenário, as empresas e investidores perderam o referencial das taxas e muitas operações foram adiadas. Agora, começa-se a desenhar um novo patamar de rentabilidade e as operações voltaram.
 
André Schibuola, sócio da Precision Asset Management, as empresas que queriam captar estavam pagando um prêmio pela baixa liquidez no mercado. Agora isso começa a se normalizar. Outro ponto é que as taxas pagas dos Certificados de Depósito Bancário (CDB) caíram. Alguns bancos grandes estão pagando menos que o CDI para captar. Com isso, aumenta a atratividade das debêntures.
 
A oferta ainda é escassa. As emissões foram retomadas nos últimos dois meses. No primeiro semestre, as emissões de debêntures somaram R$ 6,95 bilhões e existem R$ 2,47 bilhões em lançamentos em análise. No segundo semestre de 2008, as emissões totalizaram R$ 8,4 bilhões; e no primeiro, R$ 2,1 bilhões. Em 2007 inteiro foram R$ 14,97 bilhões.
 
Os números não levam em conta as debêntures emitidas por empresas de leasing. Esses papéis sumiram do mapa depois que foi criado o recolhimento compulsório sobre as operações interbancárias com empresas de leasing, o que desestimulou as emissões. Antes disso, as leasings dominavam o mercado. Se forem incluídas essas operações, as emissões feitas no primeiro semestre de 2008 atingiriam R$ 33 bilhões.
 
Neste ano, grande parte do dinheiro (53%) foi captado para redução de passivo. Também são importantes as operações de alongamento de dívidas (10%) e capital de giro (27%).
 
Segundo Denise, do BBI, há várias empresas, principalmente do setor elétrico, buscando cotações de preço no mercado para emitir, o que indica que novas operações devem ocorrer no segundo semestre. Ela conta que há até possibilidade de emissões de prazos mais longos, mas apenas para operações de menor porte. Volumes maiores, apenas para prazos entre um ou dois anos. De acordo com levantamento da Andima, o prazo médio das emissões feitas no primeiro semestre é de 2,3 anos e o das operações em análise sobe um pouco, para 2,6 anos. Em 2008, foi de 6,6 anos, excluindo asleasings.
 
Para estimular os negócios com debêntures, a Andima vai lançar ainda neste mês, para esse tipo de título, o sistema Compare. O sistema funcionará como o já existente para títulos públicos, divulgando preços médios de mercado para as 90 emissões rastreadas pela associação, ferramenta de elaboração de tabelas e gráficos que contêm as séries históricas dos preços e taxas divulgados pela Andima e o Sistema Nacional de Debêntures (SND). A ideia é, ao facilitar o acesso às informações e reduzir a dispersão de taxas.
  
“O objetivo é estimular os negócios no mercado secundário na medida que melhora a transparência e fornece parâmetro de preços”, disse Sampaio.
 

Veículo: VALOR – 08/07/2009