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Taxa do CDB sobe com o agravamento da crise

Como conseqüência do agravamento da crise, o custo de captação via certificado de depósito bancário (CDB) para as instituições brasileiras voltou a subir. Segundo fontes de mercado ouvidas pelo Valor, a alta ontem chegou a 1,5 ponto percentual. 

Bancos de grande porte chegam a pagar entre 104% e 107% do CDI para papéis a partir de seis meses voltados para investidores institucionais. Como conseqüência, os médios e pequenos precisam lançar títulos com taxas na casa dos 110% do CDI em média. Sem confirmação, o mercado fala em algumas operações acima dos 120% do CDI.

O processo de alta dos CDB teve início em janeiro, com a criação dos compulsórios para os depósitos interfinanceiros das empresas de leasing em um momento já acentuado da crise americana. Com o agravamento do cenário no início deste mês, especialmente depois do pedido de falência da Lehman Brothers, as fontes externas de financiamentos praticamente se extinguiram e houve uma retração de liquidez também no mercado bancário brasileiro.

Para remover o que o mercado chama de “empoçamento de liquidez”, quando os recursos ficam concentrados nas mãos de poucas e grandes instituições, o Banco Central adiou a entrada em vigor das últimas parcelas do compulsório das leasings e ampliou de R$ 100 milhões para R$ 300 milhões a isenção de exigibilidade adicional sobre depósitos a prazo e recursos à vista.

A medida, no entanto, teve pouco impacto e as taxas continuam subindo. Até mesmo a cessão de carteira de crédito, muito usada por bancos pequenos, está proibitiva. Poucas operações têm sido fechadas e os custos, que já giravam em torno de 155% do CDI, atingem 180% do CDI.

A expectativa do mercado é que as taxas, principalmente para os bancos pequenos e médios, vão subir ainda mais nos próximos dias, com a interrupção praticamente total das linhas de crédito externo. “Acabou a liquidez do mercado e a captação vai ficar ainda mais cara por aqui”, afirma André Schibuola, sócio da Precision Asset Management, gestora de recursos especializada em papéis de renda fixa e que resolveu apostar forte em CDBs.

Segundo André Simões, gestor de fundos da Modal Asset, a sinalização dada pelo Congresso americano ao não aprovar o pacote de resgate aos bancos, foi a pior possível. “O mercado de crédito está paralisado, esperando isso para se segurar”.

Enquanto as taxas para os investidores institucionais, como fundos de pensão e gestoras de recursos, tendem a superar os 110% do CDI para CDBs emitidos por bancos menores, o rendimento oferecido para pessoas físicas é bem menor. Um pequeno investidor ouvido pelo Valor pagou na sexta-feira 98% do CDI por um papel do Bradesco.

Rodolfo Spielmann, sócio da firma de consultoria Bain & Company, avalia que são baixos os risos de contágio do sistema financeiro brasileiro, diferentemente do que ocorre agora na Europa, onde os bancos foram “contaminados” pelos empréstimos concedidos a devedores duvidosos nos 

EUA. No Brasil, não existe a mesma interligação entre os bancos. O país também encontra-se em uma situação mais confortável de liquidez. Embora os custos do dinheiro tenham subido no mercado brasileiro, há ainda oferta de recursos no mercado interbancário, ao contrário de Londres, onde as linhas de funding simplesmente secaram.

Spielmann não acredita que a forte depreciação dos ativos nos EUA e na Europa possa abrir uma janela de oportunidade para a expansão dos bancos nacionais no exterior . “Ninguém sabe quantos esqueletos as instituições (que estão à venda) têm no armário”, acrescenta.