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Sem comprador para divisões, GE decide investir nelas

No ano passado a General Electric Co. anunciou que pretendia parar de fabricar eletrodomésticos e lâmpadas. Agora ela está investindo nesses negócios.

 A GE informou no mês passado que criaria 400 vagas para construir aquecedores de água em sua divisão de eletrodomésticos em Louisville, em Kentucky, nos Estados Unidos. Ao mesmo tempo, a empresa está aprimorando sua linha de refrigeradores e abrindo um showroom de treinamento e vendas em Bruxelas. Em iluminação, a GE está lançando novos produtos com diodos emissores de luz, conhecidos como LEDs, e apostando alto no desenvolvimento da promissora tecnologia de LEDs orgânicos.
 
A GE é uma das várias empresas que a recessão onerou com negócios que elas prefeririam descartar. Além da iluminação e dos eletrodomésticos, a GE também não conseguiu vender sua unidade de cartões de crédito para terceiros e a divisão de leasing de vagões ferroviários.
 
A telefônica americana Qwest Communications Inc. cancelou recentemente o leilão de sua rede de longa distância, indicando que não conseguiu encontrar um comprador apropriado. A operadora de TV a cabo Cablevision Systems Corp. abandonou em maio os planos de vender alguns ativos, como o ginásio nova-iorquino Madison Square Garden.
 
Warren Bennis, pesquisador e professor de administração da Universidade do Sul da Califórnia, diz que situações como essas tornam-se mais comuns em tempos de recessão. O que complica ainda mais as coisas, diz ele, é que as empresas acabam forçadas a investir nessas divisões indesejadas – nem que seja para preservar seu valor e vendê-las futuramente.
  
Jim Campbell, diretor-presidente da área de iluminação e eletromésticos da GE, conta que o presidente da GE, Jeffrey Immelt, lhe disse: “Administre o negócio como se a meta fosse continuar com ele por um longo tempo.”
 
“Continuamos investindo”, diz Campbell. “Mantivemos nossas despesas inalteradas mesmo com a crise e continuamos lançando novos produtos a cada trimestre.” Immelt não quis comentar.
 
A divisão de iluminação e eletrodomésticos registrou em 2007 receita recorde de US$ 12,7 bilhões e lucro operacional de US$ 1,03 bilhão, ganhando elogios na empresa como uma das divisões de melhor desempenho. Mas, em meio à crise imobiliária do ano passado, à recessão e à concorrência maior, a receita caiu 7,3%, enquanto o lucro caiu 65%.
 
Embora a área de iluminação e eletrodomésticos tenha levado a marca GE a milhões de residências, suas fábricas envelheceram e seus custos trabalhistas e de produção aumentaram, especialmente em comparação com os de rivais estrangeiros. O declínio na construção de casas foi mais um golpe.
 
Immelt disse a Campbell em abril de 2008 que a GE planejava vender a divisão de eletrodomésticos. Quando a GE e os possíveis compradores não conseguiram chegar a um acordo, a empresa anunciou em julho que iria desmembrar as divisões de iluminação e eletrodomésticos numa empresa aberta separada. Mas esse plano foi atrapalhado pela recessão e o aperto de crédito.
 
Campbell diz que é obrigado a investir em novas tecnologias mesmo que os negócios não venham a continuar sob a asa da GE. Mas a empresa também está cortando custos, forçando Campbell a equilibrar as despesas e os cortes. Ele já fechou algumas fábricas e trouxe de volta gerentes americanos que estavam no exterior.
 
Deane Dray, um diretor da FBR Capital Markets, de Nova York, diz que o cancelamento dos planos de venda e de desmembramento criou uma situação incômoda que facilita o roubo de funcionários da GE pelos concorrentes. “É ruim para todos”, diz. “Você é obrigado a administrar a divisão como se fosse o núcleo dos negócios, apesar de a matriz já a ter considerado menos importante.”
 
Ellis Yan, diretor-presidente da TCP Inc., fabricante de lâmpadas cuja sede em Cleveland, no Estado de Ohio, fica perto da sede da divisão de iluminação da GE, diz que contratou vários ex-engenheiros e cientistas da GE no último ano.
 
Campbell afirma que os funcionários mais importantes continuam na empresa.
 
A divisão de iluminação está desmontando as linhas das tradicionais lâmpadas incandescentes, fechando vários fábricas ou convertendo as linhas para fabricar outros produtos. Ela espera obter receita de US$ 150 milhões com aplicações da tecnologia LED, 30% a mais que no ano passado. Entre os produtos que usam esse tecnologia estão semáforos, postes, placas para redes como a Hilton Hotels Corp. e iluminação de vitrines e prateleiras das lojas do Wal-Mart Stores Inc.
 
Já na parte de eletrodomésticos, os 2.100 operários sindicalizados da fábrica em Louisville aprovaram em março um congelamento de salários, como parte de um acordo para a empresa investir numa linha de aquecedores de água. A GE espera que os novos produtos abram mercados e injetem vida nova na divisão.
 
 Campbell acredita que ainda há uma chance remota de que essas medidas convençam Immelt a manter os negócios no conglomerado.
 

Veículo: VALOR – 08/07/2009