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De olho no crescimento do setor aéreo brasileiro, o banco Santander, a Azul Linhas Aéreas, a Embraer e o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) fecharam um negócio de US$ 250 milhões para a comercialização de seis aeronaves. A operação, inédita, é chamada de spanishleasing, no qual o Santander compra os jatos Embraer 195 com 80% de financiamento do BNDES e os aluga à Azul.
A garantia é da Sociedade Brasileira de Crédito à Exportação. Uma característica inovadora foi construir uma estrutura que permite financiamento de 100% do avião com custo competitivo.
De acordo com o modelo adotado, a companhia aérea pagará aluguéis semestrais para o Santander por 12 anos, que é o prazo de amortização do empréstimo junto ao BNDES. Ao final desse período, o banco privado terá a opção de vender as aeronaves ou negociar com a Azul para continuar a alugá-las.
Para Ricardo Almeida, professor de Finanças do Insper, esta operação nada mais é que um leasingnormal. “O Santander está realizando um leasing. Isso ocorre porque as pequenas companhias aéreas têm maior dificuldade em conseguir um financiamento, devendo se tornar uma modalidade mais comum entre as pequenas empresas do setor”, explica o professor de Finanças.
A operação traz vantagens para todas as partes. No caso da empresa aérea, a conveniência é imediata. Nos financiamentos tradicionais, a companhia geralmente tem de desembolsar cerca de 20% do valor total, mas, com a participação do Santander, pôde financiar 100%.
“O mercado é carente de aeronaves de pequeno porte, como essas da Embraer. Temos aeroportos que só comportam esse tipo de aeronave, o que pode ser muito interessante para a Azul”, acrescenta Almeida.
Para o banco, esta foi uma oportunidade de pôr em prática sua política de inovação e de aprofundar o relacionamento com a Azul. “O Santander desenvolveu uma área de negócios especializada em financiamento para aéreas e é o único player a ter uma estrutura assim. Isso nos ajudou a encontrar uma relação em que todos ganham com a Azul”, diz Maurício César Farias, superintendente executivo de Retail & Aviation, além de ganhar com taxa de juros da operação.
A Azul ganha ainda no seu balanço, onde sua dívida acaba sendo menor do que em um financiamento direto, já que pode financiar 100% das aeronaves. “O prazo alongado para pagamento ao Santander e o fato de poder financiar 100% deixam o caixa da empresa mais livre para investir na expansão da frota, um dos seus objetivos no momento”, diz John Rodgerson, vice-presidente financeiro da Azul Linhas Aéreas.
De acordo com comunicado enviado pelo Santander, “a aquisição das seis aeronaves também tem impacto na geração de emprego: são estimadas 100 novas vagas diretas e 300 indiretas por aeronave a partir da operação”, acrescenta o documento.
Mesmo com a facilidade no financiamento para a companhia, Almeida não acredita que as aéreas de grande porte irão usufruir desse benefício, já que conseguem se capitalizar com maior facilidade. “As companhias de grande porte são, na sua maioria, de capital aberto. Com isso, conseguem recursos para fazer este tipo de operação mais facilmente. Elas conseguem fazer isso sozinhas”, diz o professor do Insper. Com a participação do BNDES fica mais evidente a ajuda do governo para fazer com que companhias brasileiras consigam se capitalizar com esses recursos.
Na última sexta-feira, foi anunciada a capitalização da Caixa Econômica Federal (CEF) e do próprio BNDES através do recebimento de ações ordinárias (com direito a voto) da Petrobras.
O primeiro banco receberá o equivalente a R$ 2,5 bilhões -ao todo 77.641.422 ações-, e o segundo, R$ 4,5 bilhões, ou 139.754.560 ações da petrolífera. A medida foi publicada oficialmente no Diário Oficial da União.
Com essa operação, a CEF descartou qualquer possibilidade de realizar uma captação através de emissão de dívida subordinada, por exemplo, uma modalidade normal entre as instituições financeiras brasileiras.
Veículo: DCI 31/08/2010