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Saída de estrangeiro faz juro subir e afeta fundos

A forte saída de estrangeiros ontem fez estragos também no mercado de juros, puxando fortemente as taxas, o que deve ter reflexos nos fundos DI e renda fixa. Algumas carteiras podem inclusive divulgar cotas com perdas hoje, especialmente as que concentram suas aplicações em papéis prefixados. Até mesmo os fundos DI, concentrados em papéis indexados ao juro diário do overnight, as Letras Financeiras do Tesouro (LFT), podem ter perdas se os títulos tiverem prazo muito longo.

O problema começou há algumas semanas, quando os estrangeiros começaram a sair dos títulos do Tesouro prefixados (NTN-F), puxando a taxa desses papéis para cima. O governo resolveu, então, reduzir a venda de prefixados e aumentar a parcela de LFT, e anunciou isso ao mercado. Só que, ontem, ao vender um lote de LFT relativamente pequeno, de R$ 1 bilhão, aceitou pagar uma taxa mais alta. “O mercado comprava as LFTs com vencimento em 2014 pagando ágio de 0,025 ponto percentual e, ontem, o governo aceitou vender o papel sem ágio, o que representa um ganho maior para o comprador”, afirma Ivan Dumont Silva, diretor tesoureiro do Banco Alfa. “Isso fez os juros das LFTs que já estavam no mercado subirem e isso pode afetar os fundos”, diz.

Silva lembra também que as LFTs vinham pagando menos que os papéis privados dos bancos, os CDBs, cujos juros continuam pressionados. “A demanda por crédito segue forte, especialmente por parte das empresas”, diz o executivo. Além da redução das captações no exterior por conta da crise internacional, o BNDES também está com o caixa apertado, liberando os recursos para as empresas mais devagar e tendo até de emitir CDBs para se capitalizar, concorrendo com os bancos. E o compulsório sobre operações de leasing também retirando mais dinheiro dos bancos. Por conta disso, os CDBs de bancos de primeira linha estão pagando entre 103% e 105% do CDI, enquanto os de segunda linha pagam entre 106% e 110% do CDI, dependendo da instituição.

O ajuste das taxas de juros dos títulos do Tesouro já era prevista, uma vez que as taxas dos papéis privados subiram bastante e os mercados são interligados, afirma Aguinaldo Fonseca, responsável pelos fundos de renda fixa do Banco Itaú. “Se o governo quisesse continuasse vendendo papéis, teria de aceitar taxas mais altas em algum momento”, diz. Enquanto isso não acontecia, os investidores, inclusive os fundos, iam reduzindo as compras de LFT e aumentando as de CDBs. “E como o Tesouro não vendeu papéis prefixados ontem, o mercado se preocupou e achou que as taxas das LFT poderiam subir”, diz. Para Fonseca, porém, o Tesouro não permitirá que ocorra uma grande pressão sobre as LFTs, como ocorreu em 2002 e que provocou a chamada “crise da marcação a mercado”, quando a LFT saiu de um ágio de 0,10 ponto percentual para um deságio de 3,5 ponto.

Apesar do ajuste dos preços das LFTs, Fonseca acha que a maioria dos fundos DI não deve ter cotas negativas. “Isso pode ocorrer com fundos de renda fixa prefixados, porque as taxas dos pré também subiram”, afirma ele, citando a taxa do mercado futuro da BM&F para janeiro de 2012, que subiu de 13,95% ontem para 14,29% ontem. “Mas, mesmo se houver perda, depois eles passam a render mais, ajustados ?? s taxas mais altas dos papéis no mercado”, lembra ele. Ou seja, o investidor não deve sair após a perda na cota, pois ela será recuperada ao longo do tempo.

Fonseca observa que o movimento dos juros se estendeu também para o mercado de dólar, onde a moeda americana fechou em alta de 2,68%, a R$ 1,722, e ??  bolsa, onde o Ibovespa perdeu 3,96%. “Isso é sintomático, é estrangeiro reduzindo exposição em Brasil para cobrir prejuízos lá fora”, diz. A expectativa é como o mercado reagirá hoje, afirma Fonseca. “Vamos ver qual vai ser o rescaldo desse nervosismo hoje”, diz.

Os fundos prefixados podem até ter cotas negativas, mas isso é do jogo, diz Paulo Certain, gestor de renda fixa da Unibanco Asset Management (UAM). “São fundos que têm volatilidade e não há por que o investidor se preocupar”, lembra ele. Nos demais fundos, inclusive os DIs, o impacto vai depender da quantidade de papéis prefixados, inclusive CDBs. “Mas acho difícil termos um grande impacto em fundos DI, só se algum tiver LFTs muito longas”, afirma. Sobre o dólar, Certain até vê espaço para novas altas, uma vez que a incerteza com o cenário externo continua. “Mas com o Banco Central com US$ 205 bilhões em reservas, uma alta dessas não é preocupante”, diz. A alta do dólar de R$ 1,50 para R$ 1,72 em pouco mais de um mês também deve ter incentivado a saída dos estrangeiros, que procuraram garantir os ganhos obtidos até agora.

Ontem houve um movimento de “fly to quality” (vôo para a proteção) dos estrangeiros para os títulos americanos, o que culminou com um desmonte de posições, diz André Schibuola, sócio da Precision Asset Management. “Foi um dia do ´Deus nos acuda´”. Com o estresse de ontem, alguns fundos de renda fixa poderão ter perdas por conta do ajuste das LFT ao novo valor de mercado e pelos CDBs, já que os bancos voltaram a emitir títulos com taxas mais altas.

Veículo: Valor Econômico EU& 5/9/08 Estado: SP