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Político da Louisiana (EUA) personifica a ira contra o vazamento

O centro de operações de emergência da paróquia de Plaquemines, na Louisiana, fica no terceiro andar de um edifício governamental anônimo, em uma saída rodoviária rural, mas.parecia pronto para servir de comando a uma invasão da Europa.

Às 8h de cada manhã, líderes da paróquia (governo local), Estado, Guarda Nacional, Guarda Coasteira e BP se reúnem para discutir a situação.
Um uma dessas reuniões, recentemente, os participantes, cercados por telas de televisão, estavam acomodados e à espera em torno de uma mesa ou ao lado do bufê de café da manhã.
 
A pessoa pela qual esperavam era Billy Nungesser. Quando chegou, Nungesser já estava acordado há horas, como costuma, e vinha de uma série de entrevistas aos telejornais matinais.
 
Ele procurou uma cadeira e tirou um colírio de um saco de papel – um inseto havia entrado em seu olho enquanto concedia entrevista à rede de notícias CNN. Nungesser aplicou algumas gotas de colírio, e a reunião começou.
 
Nungesser é o presidente da paróquia de Plaquemines, uma extensa jurisdição rural que se estende de Nova Orleans, ao longo do Mississipi, até o Golfo do México.
 
Horas depois da explosão na plataforma Deepwater Horizon, em 20 de abril, Nungesser já se havia tornado o homem de contato preferencial da mídia quanto ao incidente.
 
E, nas semanas seguintes, se transformou no mais furioso crítico do derramamento de petróleo, atacando os esforços de controle do governo e da BP em entrevistas ou discursando no ginásio de esportes da Venice Elementary School (“Home of the Oilers”), em Boothville, diante de uma plateia formada por ansiosos pescadores.
 
“Sei que as coisas serão difíceis”, disse, em um discurso que ocasionalmente levava jeito de preleção esportiva. “Sei que nem tudo sairá como queremos. Mas não seremos derrotados”.
“Pega eles, Billy”, gritou alguém, da arquibancada.
 
Na interpretação de Nungesser, os poderosos – seja a BP, Guarda Costeira ou o corpo de engenharia do exército – preferem perder seu tempo trocando acusações a resolver problemas.
 
Como o governador Bobby Jindal, da Louisiana, Nungesser vem defendendo fervorosamente um plano para a construção de ilhas, usando material dragado, que serviriam como barreiras, o que impediria que o petróleo atinja a costa do Estado.
 
Alguns especialistas, entre os quais os engenheiros do exército, consideram que a ideia não é boa, por motivos de custo, prazo e impacto ambiental. Para Nungesser, esse tipo de resposta não serve, mesmo que se prove correta.
 
Ele desafia os críticos da ideia a proporem sugestão melhor, e a se calarem se não tiverem nada de mais construtivo a oferecer. “Eles estão por fora, e não têm capacidade de pensar criativamente”, disse, na reunião matinal. A despeito de seu apego pelos holofotes, é difícil classificar Nungesser.
 
Em meio a uma situação que envolve um celular zumbindo como vespa, múltiplas solicitações de entrevistas, uma visita do presidente e o trabalho prático de governar a paróquia, é quase impossível conseguir que ele pare de falar por tempo suficiente para confirmar alguns dados biográficos essenciais.
 
Por exemplo: como é que ele veio a ser dono de uma fazenda de criação de alces em Plaquemines?
 
Os alces, ele explicou tarde na noite de quinta-feira, durante um jantar de 10 minutos de duração no qual o cardápio consistia de batatas chips e um refrigerante, foram comprados com o dinheiro que ganhou vendendo a casa em que morava para a irmã, em um período no qual decidiu que viveria em um contêiner de transporte marinho.
 
Nungesser diz coisas como essa e, antes que o entrevistador tenha oportunidade de pedir que explique melhor, o celular toca de novo e lá está ele em conversa com a polícia estadual, um funcionário do governo local ou sua noiva, que precisa ser informada de que uma equipe de câmera de um telejornal o acompanhará até em casa naquela noite.
 
De volta ao contêiner de transporte marinho. “Eu tinha até uma banheira de hidromassagem montada lá”, explica. “Era bem confortável”.
 
Na casa dos 20 e até o começo dos 30 anos, Nungesser trabalhava na empresa de seu pai, que fornece alimentos para plataformas marinhas de exploração petroleira.
 
Em 1991, antes de começar a trabalhar na criação de alces (as galhadas dos animais contêm um ingrediente usado na fabricação de remédios contra a artrite), Nungesser percebeu que os contêineres de transporte marinho podiam ser modificados e adaptados como alojamentos dos funcionários das plataformas marinhas de petróleo.
 
Foi difícil convencer os investidores de que sua ideia fazia sentido, inicialmente, e por isso ele decidiu que viveria em um contêiner para provar aos amigos e pessoas próximas que havia convidado a investir em seu projeto que a ideia era viável.
 
A empresa que ele criou, a General Marine Leasing, atingiu por fim um faturamento anual de US$ 20 milhões e, agora, em lugar de morar em um contêiner, ele tem uma bela casa, construída sobre uma colina artificial e à beira de um lago também artificial.
 
Nungesser sobreviveu ao furacão Katrina sem sair de casa e decidiu disputar a presidência da paróquia pelo Partido Republicano em 2006, conta, devido à frustração quanto à resposta local aos esforços de recuperação.
 
Foi uma decisão importante. Uma tentativa de se eleger para o legislativo estadual, antes dos 30 anos, fez com que Nungesser se tornasse cínico com relação à política, apesar de antecedentes fortes nessa atividade: seu pai foi presidente estadual do Partido Republicano quando este era muito fraco no Estado, e na década de 80 foi chefe de gabinete do governador David Treen, o primeiro republicano a ocupar o posto desde a década de 1870.
 
Os preparativos de Nungesser para assumir um cargo público derivam de sua experiência empresarial, que o ensinou a criticar com vigor as empresas petroleiras que considera pouco cooperativas mas não a aceitar com flexibilidade os compromissos da vida democrática.
 
“Nos negócios, Billy era, para resumir, tanto o chefe de cozinha quanto o lavador de talheres”, diz Anthony Buras, membro do Legislativo da paróquia. “Na mentalidade de negócios, basta tomar uma decisão para que ela seja implementada. Mas isso nem sempre é factível no governo. Houve época em que isso causou conflitos”.
 
A impaciência de Nungesser para com o Legislativo local não é algo que ele se esforce por esconder, ao criticar “os egos e ciúmes” de seus oponentes políticos com a mesma irritação que exibe ao criticar sua resposta ao derramamento de petróleo.
 
É essa a atitude que ele parece preferir, e a estava exibindo com toda a força na noite de quinta-feira, na varanda frontal da Myrtle Grove Marina.
 
Ele havia acabado de conduzir um grande grupo de jornalistas em uma visita de barco a uma ilha que abriga pelicanos e na volta, com as roupas encharcadas por um temporal súbito, tentava alternar seu tempo ao telefone e diante dos jornalistas.
 
Usando botas brancas de pescador, ele continuava falando ao telefone enquanto afixava um microfone à lapela para uma entrevista com a CNN, como se fosse um veterano do telejornalismo.
 
Depois veio um momento de calma, enquanto o câmera fazia a contagem para o início da transmissão.
 
A calma chegava a espantar. Nungesser se manteve imóvel por quase um minuto.
Depois, ouviu alguma coisa em seu fone e começou a explicar ao entrevistador tudo que havia de errado na situação.

Veículo: Portal Terra 02/06/2010