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SÃO PAULO – Os primeiros bancos médios a divulgarem os resultados obtidos em 2009 já servem como termômetro do que esperar dos balanços segmento. Enquanto os especializados em crédito para pessoa física, principalmente no consignado, devem apresentar evolução na carteira de crédito e crescimento no lucro líquido, caso do BMG, os focados em médias empresas devem mostrar resultados parecidos com 2008, como o Banco Industrial.
O BMG, que possui cerca de 90% da sua carteira voltada para o crédito consignado, teve um resultado líquido, no ano passado, 117% superior a 2008, R$ 522,44 milhões contra R$ 240,756 milhões.
A carteira de crédito e arrendamento mercantil, incluindo cessões, atingiu um saldo 32,8% superior, a R$ 18,717 bilhões. Já a carteira própria teve crescimento 52,5%, a R$ 6,549 bilhões.
No Industrial por outro lado, os resultados vieram bastante parecidos com o consolidado de 2008. O lucro líquido teve uma alta de 5%, de R$ 36,515 milhões para R$ 38,558 milhões. A carteira de crédito da instituição teve um acréscimo de 2%, a um saldo total de R$ 605,834 milhões.
O Industrial, em particular, se caracteriza pelo conservadorismo, apresentando, ano a ano, resultados em linha, e com uma carteira de crédito com mais de 90% de garantias. “A carteira da instituição não teve uma grande explosão em 2008, para voltar a se retrair em 2009, com a crise”, avalia o analista de instituições financeiras da Austin Ratings, Luís Miguel Santacreu. Ele explica ainda que o banco costuma limitar a alavancagem do crédito sobre o patrimônio, mostrando resultados parecidos ano a ano, independente da conjuntura econômica.
Para o professor da Fundação Instituto de Pesquisa (FIA), Ricardo Almeida, os bancos médios deverão seguir esse padrão. “Enquanto o crédito para pessoa física só se expandiu em 2009, o para empresas se retraiu fortemente boa parte do ano. Muitos dos bancos especializados nesse segmento de middle market tiveram problemas de liquidez e precisaram vender carteiras bem barato”, afirma Almeida.
Segundo dados do Banco Central, o crédito para pessoa jurídica teve um crescimento de 1,1% em 2009, a saldo de R$ 396,008 bilhões. Já os empréstimos para pessoa física tiveram expansão de 17,4%, a saldo de R$ 319,859 bilhões no ano passado.
Almeida avalia ainda que o último trimestre do ano passado houve uma recuperação nas empresas, mas sem voltar ainda a patamares pré-crise. “Os principais alavancadores do crédito em 2009 foram linhas para pessoa física – financiamento imobiliário, de veículos e empréstimo consignado.” Dados do BC apontam um crescimento nessas linhas de, respectivamente, 40,6%, 12,9% e 34,6%, a saldos de R$ 88,970 bilhões, R$ 157,135 bilhões e R$ 106,173 bilhões, pela ordem.
Segundo o analista da Austin, os bancos de middle começaram a mostrar melhoras no terceiro trimestre de 2009, “um período de transição, para depois ter um quarto trimestre bom”. “No entanto, é preciso esperar para ver se esses dois trimestres melhores serão suficientes para levar a um resultado melhor que em 2008”, diz Santacreu. Segundo ele, a comparação entre quarto trimestres deve dar a vantagem para 2009, uma vez que “em outubro de 2008, os resultados estavam em queda, e no mesmo período de 2009, estavam em alta”. Isso porque a crise financeira mundial chegou ao País após a quebra do banco de investimentos norte-americano Lehman Brothers, em setembro de 2008.
O analista diz ainda que, por outro lado, os bancos focados em consignado conseguiram mostrar uma melhora já na primeira quinzena de 2009. “Essas instituições conseguiram implantar uma estratégia de capturar crédito consignado, que mostrou ser um produto anticíclico, dos bancos de middle, que passaram a sair desse segmento”, analisa.
O diretor executivo de Finanças do BMG, Ricardo Gelbaum, concorda com a avaliação. “O último trimestre foi atípico, pelo pânico no mundo todo. No entanto, o segundo trimestre de 2009 já se mostrava mais forte que nossa curva histórica”. Apesar da expectativa de que 2010 seja um ano em que a expansão do crédito seja puxada pela alta na pessoa jurídica, Gelbaum diz que ainda há espaço para crescer no crédito consignado. “Atualmente, só 45% do mercado desse mercado é explorado. Acredito em um crescimento entre 15% e 20% em 2010”.
Veículo: DCI 27/01/2010