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A expansão do crédito para pessoa física no Brasil nos últimos seis anos deu mais do que um empurrãozinho ao crescimento da economia. Um estudo inédito do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) concluiu que, entre 2004 e 2009, o aumento dos financiamentos para o consumo das famílias foi responsável por 27% do crescimento do Produto Interno Bruto (PIB).
Isso significa que, sem o crescimento médio anual de 22,6% do crédito para as famílias registrado no período, a taxa média de expansão do PIB de 4% dos últimos seis anos teria sido de apenas 2,9%. Em 2004, o crédito para pessoa física representava 7% do PIB. No ano passado, essa proporção era de 14,7%.
O crédito pessoal, principalmente consignado, os financiamentos para automóveis e o leasing(majoritariamente de veículos) foram as modalidades que mais influenciaram no aumento do peso dos empréstimos na economia. Elas representaram dois terços de todo o crédito concedido entre 2004 e 2009.
O modelo desenvolvido pelos pesquisadores da Área de Pesquisa Econômica do BNDES Gilberto Borça Júnior e Leandro Coutinho correlacionou o volume emprestado a pessoas físicas com o crescimento da massa salarial, as taxas de juros e o índice de confiança do consumidor em São Paulo.
Crescimento. Embora a aumento da renda tenha sido o principal fator para o aumento do consumo das famílias, o trabalho indica que o acesso ao crédito contribuiu com pouco mais de um terço da alta de 62,5% das vendas do varejo entre 2004 e 2009. Como o consumo das famílias contribuiu com 3,1 pontos porcentuais do crescimento anual de 4% da economia no últimos seis anos, o estudo conclui que a expansão do crédito respondeu sozinho por 1,1 ponto porcentual dessa taxa.
O trabalho aponta o surgimento do crédito consignado como um dos principais fatores de ampliação do acesso ao crédito e redução dos juros, com redução do risco de inadimplência. A modalidade vem crescendo 35,9% ao ano desde 2005 e possibilitou aos consumidores trocar dívidas mais caras por taxas menores.
A taxa média de juros dos contratos consignados estava em 27,2% ao ano no fim de 2009, 40% abaixo da média das outras modalidades de crédito pessoal. A participação do cheque especial no total do crédito a pessoas físicas caiu de 7,1%, em 2004, para 3,4% no ano passado. Já a do crédito consignado quase dobrou no mesmo período, respondendo por 23% do total em 2009.
Taxa baixa. “A relação entre crédito para pessoa física e PIB ainda é baixa no Brasil em relação a muitos países. O brasileiro não fazia dívidas porque tinha um nível baixo de renda. Com a mobilidade social dos últimos anos, ele passou a demandar produtos que antes não estavam em seu horizonte, como automóvel”, disse Fernando Puga, chefe da Área de Pesquisa do BNDES.
Puga assinalou que estabilidade monetária, formalização do trabalho e redução do desemprego formaram o cenário favorável à expansão do crédito, que se manteve durante a crise. Ele e os autores do estudo acreditam que o crédito continuará crescendo nos próximos anos, mas em ritmo menor a partir deste ano devido ao crescimento da parcela da renda dos brasileiros já comprometida.
Para o BNDES, o vetor da expansão se deslocará do crédito pessoal para o imobiliário, cuja expansão vem se acelerando desde 2007.
Veículo: O Estado de S.Paulo 09/08/2010