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O “circuit breaker” agora seria de alta

Se a bolsa brasileira tivesse limite de oscilação para cima, assim como existe em outras bolsas do mundo, por exemplo, na Rússia, por muito pouco ele não seria acionado duas vezes ontem. Pelas regras da Bovespa, o pregão é suspenso por meia hora (mecanismo conhecido como “circuit breaker”) se o Índice Bovespa cair 10%. Em seguida, os negócios param por mais uma hora se a queda do indicador chegar a 15%. Ontem, portanto, se houvesse “circuit breaker”, por um triz ele não seria acionado duas vezes, já que o Ibovespa fechou em alta acentuada de 14,66%, aos 40.829 pontos, na máxima do dia. Essa é a maior valorização percentual diária do Ibovespa desde 15 de janeiro de 1999 – dia em que o governo deixou o câmbio flutuar e houve a forte desvalorização do real em relação ao dólar -, quando o indicador subiu nada menos que 33,40% só naquele dia. Um investidor que tivesse a brilhante idéia de investir quando o Ibovespa atingiu a mínima sexta-feira (em 33.237 pontos) e vendesse ontem no nível máximo, teria obtido um ganho de 22,84% de um dia para o outro, conseguindo se livrar das perdas do mês, ainda de 17,59% até ontem.

Mas o que tão de extraordinário aconteceu para que o mercado brasileiro tivesse o melhor dia em quase uma década? A grande notícia foi a decisão dos governos da Europa de, enfim agirem de forma concreta no sentido de amenizar os enormes reflexos da crise financeira que começou nos EUA, mas já se alastrou pelo mundo. Isso reduziu significativamente a aversão ao risco dos investidores, que até agora tinham a percepção de que os países europeus estavam de braços cruzados, já que a crise começou em terras americanas, diz o diretor de uma corretora.

Em suma, os governos da Europa criarão fundos nacionais de recapitalização e de garantias do sistema financeiro. Os líderes dos 15 países que fazem parte da zona do euro também afirmaram ontem que irão garantir os empréstimos interbancários até 2009. Além disso, os governos poderão comprar ações das instituições financeiras.

Em uma ação amplamente coordenada, os governos europeus resolveram mostrar que dinheiro não é problema e divulgaram cifras assustadoramente elevadas dentro desse pacotão de salvamento. “O investidor se sentiu mais seguro com a sábia decisão da Europa de sair do discurso e colocar a mão no bolso”, afirma o diretor da corretora.

O Brasil também contribuiu para esse tom de euforia que tomou conta dos mercados. A grande medida veio do Banco Central, que anunciou a liberação dos depósitos compulsórios (recursos que os bancos deixam nos cofres do BC) dos depósitos a prazo, dos interfinanceiros das empresas de leasing, além de liberar também os compulsórios adicionais sobre os depósitos a prazo. O objetivo dessas medidas é aumentar a liquidez das instituições financeiras para que possam reaquecer o mercado de crédito, que praticamente secou nas últimas duas semanas.

As ações de bancos tiveram altas que há muito tempo não se via. As preferenciais (PN, sem voto) da Itaúsa (holding do grupo Itaú) subiram 25,15%, enquanto que as PNs do próprio Banco Itaú tiveram alta de 23,37%. As units (recibo de ações) do Unibanco se valorizaram 22,77% e as PN do Bradesco, 22,13%. Desde que a crise hipotecária americana começou, em junho do ano passado, os papéis dos bancos brasileiros vêm sofrendo com o efeito contágio, uma vez que as instituições financeiras locais não participavam da ciranda com os títulos hipotecários de alto risco (os “subprime”).

?? inegável que o pregão de ontem trouxe alívio aos investidores. Mas os analistas fazem dois alertas: o primeiro é que a crise ainda está longe do fim e o outro é que, apesar de ontem ter sido para cima, esse tipo de oscilação não faz bem a ninguém. “?? impossível fazer um investimento na bolsa com o Ibovespa subindo 15% num dia e caindo 10% no pregão seguinte”, afirma o diretor da corretora.

Um bom momento para as opções

Assim como nas ações, a volatilidade das opções (direito de comprar ou vender ações a um determinado preço, em uma data previamente estabelecida) também disparou. Na sexta-feira, a volatilidade das opções das ações preferenciais da Petrobras que vencem na próxima segunda-feira (dia 20) chegou a 150%, sendo que historicamente esse percentual raramente passa dos 50%, lembra o sócio da InvestCerto Consultoria Financeira, Luiz Francisco Rogé Ferreira. Em outras palavras, essa volatilidade de 150% significa que as opções podem cair ou subir 23% em apenas seis dias úteis entre sexta passada e a próxima segunda, pelos cálculos de Rogé Ferreira. Mesmo assim, ele afirma que, neste momento em que as incertezas ainda reinam, o melhor é aplicar em bolsa via compra de opções. “Nesse caso, se as ações caírem, o investidor perde apenas o prêmio da opção, que é infinitamente menor que o valor da ação em si”, explica Rogé Ferreira.

Veículo: Agência Estado ??ltimas Notícias 13/10/08 Estado: SP