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Bob Herz, presidente o Conselho de Padrões de Contabilidade Financeira (Fasb), dos Estados Unidos, enfim, apresentou suas ideias sobre uma das questões mais controvertidas dos últimos dois anos: o da contabilização de instrumentos financeiros e uso do valor justo.
O valor justo – que significa contabilizar os instrumentos financeiros valendo-se do valor de mercado – dos produtos complexos que compõem grande parte dos balanços dos bancos de investimento foi, é claro, um dos campos de batalha no recente desmoronamento dos mercados.
Os defensores, como o Goldman Sachs e uma série de poderosos fundos mútuos e previdenciários dos Estados Unidos, argumentam que avaliar os ativos e créditos pelos preços de mercado está no melhor interesse dos investidores, por proporcionar a visão mais clara sobre o valor da companhia.
Herz parece ter ficado do lado dos investidores nesse argumento. Pelas propostas do Fasb, apresentadas anteontem, a avaliação de instrumentos financeiros será simplificada, mas haverá mais uso do valor justo do que nas normas americanas atuais ou do que em qualquer outro momento dos últimos anos.
O custo amortizado apareceria como uma linha separada do balanço – certo consolo para os críticos do valor justo. Para os ativos financeiros que são mantidos com objetivo de receber juros e principal, o balanço teria de informar tanto o valor justo como o custo amortizado.
A posição do Fasb também entra em confronto com a do Iasb, com quem tenta convergir. O órgão que determina as regras contábeis da maior parte do mundo, mas não dos EUA, propôs contabilizar pelo valor justo um número bem menor de instrumentos financeiros e um número maior pelo custo amortizado. Tendo em vista que a Comissão Europeia mostrou certa oposição à proposta do Iasb – argumentando que ainda há uso demasiado do valor justo – parece certo que os políticos e reguladores europeus terão uma opinião ainda mais crítica sobre o plano do Fasb.
Por meses, o Fasb e Iasb deram a impressão de andar em direções opostas. Mas isso ocorreu a portas fechadas, onde era difícil, se não impossível, que investidores, reguladores, contadores e executivos – os verdadeiros clientes das normas contábeis – pudessem se envolver.
Ao trazer o conflito para terreno aberto, Herz pode ter proporcionado um último incentivo ao processo de convergência. Agora, cabe a todas as partes interessadas se certificarem de que não desperdiçarão a chance de um debate mais amplo.
Veículo: Valor 28/05/2010