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No papel do BC

Em setores do BB, a reação do governo à crise, especialmente do Banco Central, era vista com preocupação. Em janeiro de 2008, o BC decidira criar um depósito compulsório sobre captações feitas por bancos por meio de debêntures das empresas de “leasing“. Os custos de captação dos bancos, que já vinham subindo, ganharam novo impulso porque em abril o BC começou a subir os juros.

O governo, porém, só acordou de fato para a crise com a quebra do Lehman Brothers. Já na semana seguinte, o BC começou a pedir que o Banco do Brasil comprasse carteiras de crédito de bancos menores que sofriam saques. O BB colocou algumas resistências a esse modelo de socorro, argumentando que o papel de emprestador de última instância cabia ao BC.

 

Nas reuniões internas no governo, porém, o presidente do BC, Henrique Meirelles, argumentava que não havia segurança jurídica para conceder empréstimos. “O Meirelles dizia que, se o BC emprestasse aos bancos menores, seria processo judicial na certa”, afirma um funcionário do banco que acompanhou as discussões no governo. “Mas ele achava OK que os dirigentes do Banco do Brasil corressem riscos judiciais.”

O BC não se pronunciou oficialmente sobre essa reportagem. Uma fonte da instituição, porém, sustenta que a resposta do BC foi dada por meio de uma regulamentação que modernizou o redesconto. A orientação para os grandes bancos comprarem carteira valia para todo o sistema, e não só para o BB. Não foi fechada operação de redesconto, segundo essa fonte, por falta de demanda do mercado bancário, que resolveu sozinho os seus problemas.

 

Havia no governo o sentimento de que o país não tinha ferramentas adequadas para lidar com uma crise bancária. O Banco do Brasil aproveitou a deixa para, numa reunião do grupo de avaliação da crise, propor ao ministro Mantega uma MP autorizando os bancos públicos a comprar instituições financeiras menores. Ao governo, o BB vendeu a medida como um mecanismo para evitar a quebra de bancos menores. Internamente, o objetivo do BB foi criar um caminho para comprar a Nossa Caixa. O primeiro esboço da MP foi escrito pelo departamento jurídico do banco federal. Depois, foi emendado pela Caixa Econômica Federal e pelo resto do governo.

Com a MP, a última exigência de Serra podia ser cumprida – o pagamento em dinheiro. Mas, na reta final do negócio, a resistência veio do próprio governo. Os ministros Mantega e Dilma Roussef (Casa Civil) se opuseram à aquisição para não fortalecer o caixa de Serra, provável candidado em 2010. O Valor procurou os ministros e até o fechamento desta edição Mantega não deu resposta. A assessoria de imprensa de Dilma informou que a ministra não participou da decisão. Lula, na ocasião, cedeu aos argumentos técnicos. O principal deles era que, sem a Nossa Caixa, o BB continuaria um banco sem expressão em São Paulo.

 

Num encontro com Serra, Lula fez um ajuste final na proposta: o BB pagaria os R$ 5,4 bilhões acertados em 18 parcelas. A decisão não teve nenhuma relação com uma eventual falta de caixa ou de capital do Banco do Brasil. Foi uma satisfação ao PT. Serra receberia uma forte injeção no caixa estadual, mas não de uma só vez.

Veículo: Valor 24/11/2009