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No Brasil, crédito seca até para as grandes empresas

Presidente do Bradesco diz a analistas que recomenda a cliente esperar taxa melhor

Mercado de crédito praticamente parou desde a segunda, e taxas subiram para patamares proibitivos até para grandes empresas

Diante de um cenário de incertezas, o crédito praticamente secou até para as grandes empresas nesta semana no Brasil. Nas consultas para tomar dinheiro emprestado ontem e anteontem, as taxas pedidas foram consideradas irreais, com valores que passaram de 110% do CDI, e apenas para prazos de menos de 180 dias.

Anteontem, segundo fontes ouvidas pela Folha, o mercado de crédito viveu uma espécie de “feriado”, em que nenhuma operação importante foi fechada. O pouco dinheiro emprestado foi de curtíssimo prazo e com taxas proibitivas, que chegaram a inéditos 120% do CDI.

O CDI é a taxa de empréstimo entre os bancos. Desde janeiro, quando o BC criou o compulsório para as empresas de leasing, as taxas de captação começaram a subir muito acima do CDI. Na semana passada, em meio à crise de liquidez, os bancos menores captavam com taxas de até 107% do CDI.

O presidente do Bradesco, Márcio Cypriano, afirmou ontem, durante reunião com analistas, que o banco está recomendando aos clientes operações de no máximo 180 dias, pois acredita que após esse período as taxas serão melhores.

Para Luis Miguel Santacreu, analista da Austin Ratings, a secura do crédito não significa que os bancos não tenham dinheiro para emprestar, mas que preferem priorizar o próprio caixa num momento em que liquidez passou a ser um ativo escasso e caro. “Não é todo crédito que está disponível para as empresas. Os juros estão muito altos, mas é momentâneo. Se virar regra, [a flexibilização do] compulsório fracassou. Quem paga isso são as empresas menores que estão sem oxigênio no capital de giro.”

O BNDES disse estar atento à escassez do crédito no país e estuda ampliar as linhas para as empresas, especialmente exportadoras. Mas disse que também teve de elevar os custos de algumas dessas linhas, substituindo a TJLP pelo IPCA e cesta de moedas.

De acordo com Alfredo Moraes, presidente da Andima, a situação melhorou ontem, quando as taxas recuaram na BM&F. Moraes afirma que os bancos trabalhavam ontem com médias que vão de 104% a 105% do CDI. “Quando tem esse estresse, as taxas oscilam muito. Assusta, e você não consegue captar mais. Na área de crédito, fica todo mundo com a barba de molho. [Segunda] foi um dia de reflexão, em que as pessoas param para ver e fazer um novo julgamento”, disse.

Para os bancos pequenos, a situação continua crítica, mesmo com a entrada em vigor anteontem da flexibilização dos depósitos compulsórios.

Segundo Roberto Troster, da Integral Trust, a medida não foi suficiente para resolver os problemas de caixa dos pequenos. Para Troster, se a crise persistir, o BC terá de baixar mais os compulsórios e mexer nas linhas de redesconto. “Os bancos grandes também estão com liquidez reduzida, mas a situação está mais difícil para os pequenos. O BC fez muito pouco, foi muito tímido, em relação ao que tem de ser feito. Precisa dar um sinal forte e claro de que a gente não vai ter problema de liquidez. E ele não está dando esse sinal.”

Veículo: Folha de S. Paulo Dinheiro 01/10/08 Estado: SP