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Cristiane Perini Lucchesi e Carolina Mandl, de São Paulo
As emissões de debêntures e notas promissórias no país ainda estão longe de formar um mercado de capitais verdadeiro. Não há negociação no chamado mercado secundário e grande parte dos títulos fica na carteira dos bancos que estruturam as operações, na forma de empréstimos disfarçados, sem que seja distribuída aos investidores. Mas uma análise das emissões feitas em 2009 dá sinais de que isso pode estar mudando.
Segundo dados da Anbima (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais), do volume total de títulos de longo e de curto prazos emitidos em 2009, que chegou a R$ 45,069 bilhões, quase metade – 45,8% – foi efetivamente distribuída a investidores. Em 2008, esse percentual foi de 16%, de um total de R$ 29,889 bilhões.
A participação das pessoas físicas cresceu, ainda segundo estudo da Anbima obtido pelo Valor. No ano passado, foram emitidos R$ 22,774 bilhões em debêntures, das quais 11% foram vendidas para pessoas físicas. Em 2008, esses investidores de menor porte compraram 0,1% das debêntures. Em 2007, ficaram com 1,3%.
“A área de private banking (que reúne as pessoas físicas ricas) cresceu muito no país e, com a queda nos juros básicos Selic, veio ao mercado de papéis corporativos em busca de maior retorno”, diz Alexandre Aoude, diretor de renda fixa do Itaú BBA, o primeiro colocado nos rankings da Anbima de originação e distribuição de renda fixa no mercado interno, posição que mantém desde 2007.
Aoude diz que o interesse das pessoas físicas é maior nas debêntures de curto prazo, como a de R$ 610 milhões da Bradespar no início de 2009, de 18 meses, as de R$ 3 bilhões da Telemar Norte Leste, de dois e três anos, também no início de 2009, e as de R$ 1 bilhão da BNDESPar, que teve uma parcela de vencimento em três anos, emitidas no final do ano.
“Os investidores começaram 2009 comprando emissões de empresas do setor de serviços, como o elétrico, telefonia e bancos, para depois passarem a diversificar sua carteira e aceitar mais risco”, afirma Aoude. À medida que os prazos foram se alongando para cinco ou seis anos, a participação dos investidores institucionais cresceu. Em 2009, na comparação com 2008, o prazo médio foi reduzido de 6,7 anos para 4 anos.
No que se refere às taxas, considerando apenas as indexadas pelos juros do Depósito Interfinanceiro, a maior concentração ficou entre 110% e 125%. Entre as emissões que foram a mercado, 56,3% saíram com taxas abaixo da faixa sugerida aos investidores, um aumento em comparação aos 33,3% de 2007 e aos 12,5% de 2008. “Isso é um sinal de melhoria clara no mercado”, avalia Alberto Kiraly, vice-presidente da Anbima. Os juros propostos quando as ofertas eram anunciadas aos investidores iam caindo com o passar das semanas, por causa do risco menor percebido para aquele emissor específico, e também no mercado.
“A partir do meio do ano, houve uma forte correção nas taxas. E com isso, muitas empresas aproveitaram para trocar dívidas mais caras por outras mais baratas”, explica Rubens Cardoso da Silva, gerente-executivo de mercado de capitais do Banco do Brasil.
As operações de renda fixa movimentaram R$ 63,1 bilhões em 2009. Do total, 46,4% ou R$ 29,3 bilhões, foram emitidos por meio da instrução da Comissão de Valores Mobiliários nº 476, que prevê a dispensa de registro para as ofertas públicas com esforços restritos, com apresentação para até 50 investidores (todos qualificados), sem necessidade de registro na autarquia. Foram R$ 15,3 bilhões em debêntures e R$ 12,7 bilhões em notas promissórias. Já o volume de debêntures sem leasing foi 209% maior em 2009 (R$ 27,5 bilhões), do que em 2008 (R$ 8,9 bilhões).
“A nova instrução abriu a possibilidade de as debêntures financiarem até aquisições. Como o processo de registro levava muito tempo, antes precisava-se fazer um empréstimo-ponte, para depois trocar por uma debênture”, diz Fábio Mentone, diretor do Bradesco BBI, terceiro colocado em emissões em 2009 pelo ranking.
A Anbima também faz um ranking de líderes em transações de ações. Neste caso, o Santander não foi o líder, como no ranking da Thomson Reuters, publicado pelo Valor. Isso porque a Anbima separa do ranking geral os bancos líderes que detém mais de 10% do capital da empresa emissora. Os líderes do ranking da Anbima foram o BTG Pactual e o Credit Suisse. (Colaborou Carolina Mandl)
Veículo: Valor 08/02/2010