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Mantega diz que governo tem “arsenal” pronto contra a crise

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, disse que o governo está preparado para proteger a economia nos setores que podem sofrer com os efeitos da crise americana. Até o momento, o representante afirma que foi possível diagnosticar impactos da crise na escassez de crédito e na volatilidade do mercado de ações, fato que elimina mais um instrumento dos empresários para levantar recursos. “O governo tem um verdadeiro ‘arsenal’ para garantir um nível satisfatório de crédito para proteger a economia”, disse.

Algumas medidas pontuais já foram tomadas pelo governo, como a redução do depósito compulsório dos bancos e a liberação de recursos para o setor agrícola. Uma delas foi o adiamento do cronograma de recolhimento compulsório das empresas de leasing (aluguel de um bem que pode ser adquirido depois pelo locatário). O Banco Central também ampliou de R$ 100 milhões para R$ 300 milhões de dedução a exigibilidade adicional para as instituições financeiras sobre depósitos a prazo, de poupança e recursos à vista, inserindo mais R$ 5,2 bilhões na economia. Diante da falta de liquidez em dólares que cria dificuldade para os exportadores, o BC também fez dois leilões de venda da moeda norte-americana, totalizando US$ 500 milhões. Para tentar reduzir o impacto da crise na agricultura, Guido Mantega anunciou na quarta-feira (1º) a antecipação por parte do Banco do Brasil da liberação de R$ 5 bilhões em crédito para o setor, que teme problemas com a safra por falta de crédito no mercado para o plantio e insumos.

Na quinta-feira (02), foi lançada uma nova medida para ampliar os recursos disponíveis no mercado, que injetarão mais R$ 23,5 bilhões na economia. A ação reduz o depósito compulsório desta vez sobre os títulos públicos. Por essa regra, os bancos terão a opção de abater de parte do dinheiro destinado ao BC o valor de compra de operações de crédito de outras instituições financeiras, desde que a vendedora tenha patrimônio de R$ 2,5 bilhões. “O crédito é fundamental. Temos procurado aumentar o volume de recursos do BNDES [Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social], mantendo a taxa de juros no nível mais baixo da história, da Caixa Econômica e do Banco do Brasil”, afirma.

O ministro acrescenta que o epicentro da crise ocorre nos países desenvolvidos. Os emergentes, que vêm mantendo um crescimento contínuo, têm condições de administrar melhor a crise. “As economias avançadas já se mostravam pouco dinâmicas, com fundamentos macroeconômicos frágeis e até inflação elevada. Nos emergentes existe um cenário de robustez, com um mercado potencial maior. O Brasil, por exemplo, em caso de crise, pode recorrer ao mercado interno”, explica.

Pacote

Na opinião de Guido Mantega, com a aprovação do pacote americano, o cenário econômico pode começar a se normalizar. Segundo ele, as duas últimas semanas não podem ser levadas como um momento natural de crise. Para o ministro, o crédito travado que figura atualmente não deve prosseguir por muito tempo.

Para se ter uma idéia do estrago, a crise reduziu o volume de concessões de novos empréstimos para os Adiantamentos de Contratos de Câmbio (ACC). Em agosto, segundo o Banco Central, houve retração de 6,6% nessas linhas em relação a julho. Na comparação com igual mês de 2007, o tombo é maior, de 19,6%.

“O pacote americano não é bom, eu diria razoável. No entanto, ruim com ele, pior sem ele. Eu acredito que assim que ele entrar em vigor a situação começará a ser combatida num cenário mais realista. Além disso, a Europa vai precisar de um pacote, que vai ajudar a melhorar o quadro.” Mantega reconhece que, mesmo com o fortalecimento do País, “ninguém pode se dizer invulnerável neste momento”.

Entre os principais pontos de impacto para o Brasil, o ministro da Fazenda menciona a fuga de investidores da bolsa de valores para cobrir buracos em suas matrizes; a redução drástica dos IPO (sigla em inglês de oferta inicial de ações); e a falta de crédito. “Sabemos que o BNDES vai ser muito demandado, já que ele acabou virando a única alternativa de crédito de algumas empresas. Vamos trabalhar para garantir o volume de crédito para que ele atinja suas metas”, sinaliza o ministro.

Quanto ao câmbio, Mantega acredita que ele ajudará as exportações. “O nível está bom para o setor. Acredito que ele terá volatilidade, mas se manterá em patamares mais elevados do que no passado. Ele ajudará na balança comercial”, comenta.

De acordo com o ministro, o Brasil está em melhores condições de enfrentar a crise do que muitos países do mundo, com investimentos previstos, entre 2008 e 2011, na ordem de R$ 1,2 trilhões no setor produtivo e em obras de infra-estrutura.

Outro ponto defendido por Mantega foi o fato de o País manter reservas acumuladas de US$ 207 bilhões, embora, mesmo com esse cenário turbulento, o governo não tenha precisado utilizar nem um dólar do total acumulado contra a crise.

Veículo: DCI Finanças 06/10/08 Estado: SP