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Louis Dreyfus entra na disputa pela Selecta

O grupo francês Louis Dreyfus entrou na disputa pela Selecta, empresa goiana que atua na originação e exportação de soja que requisitou recuperação judicial em abril e teve o pedido aceito pela Justiça de Goiás no mês seguinte. A proposta deve ser explicitada na segunda-feira, quando será realizada a assembléia geral de credores da companhia, em Goiânia.

A oferta põe o grupo francês na disputa com a Los Grobo do Brasil, associação entre o maior produtor de soja da Argentina e o fundo Pactual Capital Partners (PCP), que gerencia recursos dos ex-sócios do banco Pactual. Em junho, a Los Grobo anunciou a assinatura de um memorando de entendimentos com a Selecta para ficar com a empresa a partir do desembolso de US$ 55 milhões. Fontes ligadas às negociações ouvidas pelo Valor confirmam a entrada da Louis Dreyfus na disputa. Detalhes da proposta não foram apresentados.

Em seu plano, a Los Grobo ficaria com as operações de originação de soja, em uma transação de US$ 30 milhões. A Selecta ficaria com a unidade de processamento de soja localizada em Araguari (MG), que consumiu investimento de US$ 80 milhões e está em vias de ser concluída, mas que ainda necessita de US$ 5 milhões para obras físicas, US$ 10 milhões para custeio e investimento da primeira linha de proteinado de soja e US$ 15 milhões para a segunda dessas linhas. Outros US$ 25 milhões seriam pagos pela Los Grobo do Brasil na compra de bônus de subscrição – títulos que dão direito à compra de ações por tempo determinado.

As propostas feitas por Louis Dreyfus e Los Grobo precisam ser avaliadas pela assembléia de credores desta segunda-feira. Os credores podem requisitar mais tempo para análise dos planos. A juíza Ana Maria Rosa Santana, da 8ª Vara Cível de Goiânia, determinou que, caso a assembléia de segunda-feira não chegue a um quórum mínimo, uma segunda assembléia, marcada para 3 de novembro, será realizada com qualquer que seja o número de credores presente.

Sobre o plano de recuperação da Selecta, há dúvidas sobre a viabilidade de decisão definitiva já nesta assembléia. “Apesar de bem elaborado, o plano de recuperação terá dificuldade de aprovação na forma em que foi proposto”, diz o advogado Marcus Vinícius Reis, do escritório Reis Advogados Associados, que representa credores da Selecta no caso.

A dívida total da empresa apresentada no plano é de US$ 394,7 milhões. Desse montante, US$ 141 milhões referem-se a dívidas em operações de pré-pagamento de exportações, adiantamento de contratos de câmbio (ACC) ou leasing de equipamentos e veículos – de acordo com a lei, esses credores não têm direito a voto.

Não significa que tenham sido excluídos. O Santander, por exemplo, com o qual a Selecta tem débito de US$ 5,1 milhões em ACCs, tem uma proposta dedicada especificamente a ele. A proposta não prevê desconto no valor do principal, mas está condicionada à liberação de 13,2 mil toneladas de soja que o banco tem como garantia.

Os credores com garantias reais têm para receber US$ 60,1 milhões e os quirografários (sem garantia real), US$ 193,5 milhões. Em ambos os casos, os credores foram divididos em duas classes, de acordo com a prioridade da empresa, que determina maior ou menor prazo de pagamento, maior ou menor oferta de desconto. Essa diferenciação desagradou a muitos credores, segundo alguns deles afirmaram ao Valor.

A Selecta encerrou o ano de 2007 com patrimônio líquido (PL) de R$ 49,3 milhões. Apenas três meses depois, o PL estava negativo em mais de R$ 260 milhões.

Veículo: Valor Econômico Índice Geral 24/10/08 Estado: SP