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Investimentos: BB aprovou 45 projetos em 15 dias, num total de R$ 12,4 bilhões

O fim de ano foi bastante promissor para a Manserv, empresa de terceirização de logística e manutenção industrial. Com novos contratos fechados com Braskem, Usiminas e Rhodia, a companhia teve de recorrer a uma linha de Finame para compra de novos equipamentos. Tomou R$ 5 milhões do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), pagos em 48 meses e taxas inferiores a 7% ao ano. 

“No ano passado não tivemos um crescimento tão expressivo, mas a economia melhorou e no fim do ano ganhamos contratos importantes. Agora temos uma expectativa de fechar mais operações de financiamento até junho”, diz Eduardo Lambiasi, diretor da Manserv, grupo que faturou R$ 540 milhões em 2009.
 
Para alguns diretores de bancos, a sensação é de que o ano ainda não terminou, tamanha a demanda das empresas por crédito nos primeiros dias de janeiro. O que mais chama atenção das instituições financeiras é a volta da procura por linhas de investimentos na esteira do pós-crise. Ninguém quer ficar para trás na hora da retomada econômica.
 
Somente o Banco do Brasil, líder em repasse do BNDES, aprovou 45 projetos de médio e grande portes nos primeiros 15 dias de janeiro. O total envolvido supera os R$ 12,4 bilhões, considerando apenas os projetos de expansão da capacidade.
 
O nível ainda está longe do que era antes da turbulência mundial e há uma natural queda da atividade no começo do ano. Mas dada a sazonalidade do período, que costuma transformar janeiro num mês praticamente morto em termos de negócios, o ritmo de consultas recebido pelos bancos é um forte indicador de que o ano promete acelerada expansão dos investimentos tanto das grandes quanto das médias empresas.
 
“Há uma retomada do investimento, ainda num ritmo mais lento, mas de fato está voltando”, diz Ricardo Flores, vice-presidente de crédito do Banco do Brasil. Segundo ele, coincidentemente, a demanda voltou por volta de outubro, 12 meses depois do estouro da crise, em 2008.
 
Os dados do Banco Central comprovam essa inflexão. Em dezembro o saldo da carteira do BNDES avançou consideráveis 4,5%. Levando-se em conta os últimos três meses do ano, os desembolsos subiram 9% em relação ao mesmo período do ano anterior. E o ritmo de janeiro indica continuidade. “Não há razão para o crédito para investimentos não crescer no mesmo ritmo das outras linhas, entre 20% e 25%”, completa Flores.
 
Os dados do BNDES do ano passado estão, de certa forma, contaminados pela linha de capital de giro criada pelo banco de desenvolvimento durante a crise, como forma de dar liquidez às empresas. Mas a instituição já avisou aos bancos que a orientação mudou e que neste ano os recursos estatais devem ir prioritariamente para investimentos.
 
O entrave, como sempre, é que a única fonte de linhas de longo prazo continua sendo o BNDES. Mas começam a surgir alternativas, como a letra financeira, novo título de banco que se assemelha a uma debênture. Além disso, com a relativa melhora do cenário externo, o mercado de capitais voltou a ser uma opção viável, mas por enquanto apenas para as grandes.
 
Segundo Silvio de Carvalho, diretor do Itaú Unibanco, as grandes empresas estão retomando as captações no exterior, e por isso o foco do banco está bastante direcionado para o segmento de pequenas e médias, nicho que voltou a crescer nos últimos meses do ano. “A expansão desse segmento terá continuidade nesse ano, mesmo no primeiro trimestre”, diz.
 
Segundo Nilton Pelegrino, diretor do Bradesco a demanda entre setembro e dezembro foi “até acima do que se esperava”, o que dá uma boa perspectiva para o ano de 2010. Ele lembra ainda da expectativa com os grandes eventos esportivos, que devem demandar muito investimento e que também movimentam muitas cadeias produtivas compostas por empresas de pequeno e médio portes.
 
Cadeia produtiva parece ser o nome do jogo para os bancos. Ainda receosos com o cenário pós-crise de 2009, quando a inadimplência praticamente dobrou, as instituições financeiras retomaram a oferta de linhas de empréstimos mais fortemente para as companhias que sejam fornecedoras das grandes, pois essas têm bons recebíveis para oferecer como garantia.
 
A própria Manserv é um bom exemplo. Integrada em cadeias importantes como de petróleo e gás e petroquímica, ela é bastante assediada pelos bancos, diz Lambiasi. E aos poucos começa a ceder mais espaço para as instituições. “Crescemos com recursos próprios e algumas operações pontuais deleasing, mas nesses últimos anos, principalmente em 2009, resolvemos mudar um pouco a estrutura de capital, mas sempre muito atento a linhas de perfis mais adequadas, tanto de prazos quanto de custos”, diz.
 
Uma boa parte da demanda por crédito vem justamente das empresas que integram essas cadeias. “São projetos que foram retardados com a crise e agora começam a ser recolocados na prancheta”, explica Walter Malieni, diretor de crédito do Banco do Brasil. Empresas de petróleo e gás e construção civil, tanto a carteira imobiliária quanto a construção pesada, estão bastante aquecidas. “O país hoje é um canteiro de obra”, brinca Malieni. O setor de energia também está com bons projetos para os dois próximos anos, completa.
 
Além dessa maior procura, os indicadores econômicos também animam os bancos. Relatório do economista do HSBC, Andre Loes, aponta que os dados recentes sugerem uma recuperação da atividade mais forte que o esperado. Segundo ele, a utilização da capacidade em alguns setores já está acima do nível pré-crise e a criação de empregos tem apresentado crescimento estável nos últimos meses.
 
Dados medidos pelo banco mostram que a economia inicia 2010 atenuando a sazonalidade negativa de janeiro. “O ritmo de recuperação sugere que a economia começa o ano com vigor. Esperamos agora que o crescimento do PIB atinja 6,9% em termos anuais no primeiro semestre”, diz o texto.

Veículo: Valor 25/01/2010