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Investidor em debêntures deve voltar gradualmente

As emissões de debêntures, que entre janeiro e novembro somaram R$ 21,4 bilhões (com queda de 50,7% em relação ao mesmo período do ano passado), devem fechar este ano, na melhor das hipóteses, em R$ 24 bilhões. A projeção é de Alberto Kyrale, vice-presidente da Associação Nacional dos Bancos de Investimento (Anbid) e coordenador da Comissão de Finanças da entidade. Embora muitos analistas digam que o mercado de emissões está totalmente fechado e que só deva ser retomado a partir do final do primeiro ou segundo trimestres do ano que vem, Kyrale afirma que ainda há chances de que operações em análise na Comissão de Valores Mobiliários (CVM) saiam em 2008. “Já notamos algumas emissões de notas promissórias com 18 meses, que sinalizam um movimento de alongamento dos prazos aceitos pelos investidores”, diz Kyrale, que projeta para 2009 um volume superior ao deste ano, entre R$ 35 bilhões e R$ 40 bilhões, mas ainda inferior ao registrado em 2007, quando a entidade contabilizou R$ 48 bilhões. 

Para Kyrale, o mercado já passou pelo pior no que se refere aos resgastes da indústria de fundos e ele acredita que agora os aplicadores deverão retomar a procura por ativos no mercado interno. 

Com a crise financeira internacional, acentuou-se, a partir do segundo semestre, a dificuldade de as empresas conseguirem captar recursos por meio das debêntures. Em um primeiro momento, subiram as taxas e 

encurtaram os prazos. Depois, sumiram os investidores do mercado e, mesmo dispostas a pagar mais caro, muitas companhias não tiveram demanda para suas emissões. “Não foi só uma questão de preço. O mercado se fechou completamente para os emissores”, diz Ricardo Leoni, superintendente de mercado de capitais do Santander. “Não é uma questão de confiança nas empresas que querem captar, porque elas têm excelente qualidade de crédito. Mas com o resgate dos fundos e a perda nas bolsas, os investidores de debêntures – assets e fundações – ficaram com menos recursos para investir e preferiram alocá-los em ativos como títulos públicos e CDBs”, explica Leoni. Ele acrescenta que quando se excluem do volume total as emissões de companhias de leasing, o valor das operações de debêntures cai pela metade: R$ 10 bilhões, considerando o registrado até 30 de novembro. Para ele, o cenário não deverá mudar muito no primeiro trimestre de 2009. “Devemos ficar de olho no indicador de captação líquida dos fundos. Quando ele crescer, os players deverão começar a voltar ao mercado, mas de forma lenta”, diz Leoni. 

Laurence Mello, superintendente de mercado de capitais do Banco Fator, afirma que as empresas que tinham estruturado operações no meio do ano, mas decidiram não captar por considerar as taxas altas, podem ter cometido um erro. “Agora, nem com taxas altas se consegue captar. Se houver emissão no primeiro semestre, provavelmente será algo pontual, um emissor e um investidor em cada ponta caracterizando a operação como debênture”, diz ele. Mello diz que a esperança agora é que as medidas anunciadas pelo governo (com mudanças no Imposto de Renda para pessoa física e redução de IPI para a indústria automobilística) se reflitam em aquecimento da economia, para que o mercado de capitais também seja retomado. “Por outro lado, já estamos notando no mercado em geral um interesse maior dos grandes investidores, nacionais e estrangeiros, por debêntures conversíveis. ?? uma operação vantajosa para todos, porque os captadores pagam taxas menores com maior prazo em relação a outros 

empréstimos, enquanto os investidores ganham mais do que se estivessem com CDBs e têm a possibilidade de fazer a troca por ações”, diz o superintendente do Fator. 

Uma das últimas operações de debêntures realizadas esse ano foi a da Sabesp, que captou em outubro R$ 220 milhões em duas séries (uma de R$ 100 milhões, pagando CDI mais 2,75% ao ano, com prazo de 5 anos; e a segunda, de R$ 120 milhões, rendendo aos investidores IPCA 12,87%, com prazo de 7 anos). A operação fez parte de um programa estruturado pela Sabesp para captar R$ 3 bilhões e teve como objetivo o refinanciamento de dívidas com vencimento em março do ano que vem. “Estávamos em pleno andamento da emissão quando a crise se agravou no meio de setembro. Mas decidimos seguir em frente”, diz Rui Affonso, diretor da área econômico-financeira e de relações com investidores da Sabesp. “As taxas são superiores às que conseguíamos antes. Mas conseguimos fazer a emissão quando outros não conseguiram. Tivemos demanda total.”

Veículo: Valor Econômico Empresas Citadas 19/12/08  Estado: SP