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Interferência do mercado

O governo tem, aos poucos, soltado medidas para garantir a normalidade do mercado. Primeiro, adiou a entrada em vigor do compulsório de 20% e 25% sobre as operações de leasing e aumentou o limite de exigibilidade nos depósitos, garantindo cerca de R$ 13 bilhões de liquidez extra aos bancos. Depois, adiantou R$ 5 bilhões em crédito para a agricultura e, por último, reduziu o compulsório dos depósitos a prazo, injetando mais R$ 23 bilhões de liquidez, especialmente entre bancos médios. Pacote ou não, o fato é que o governo brasileiro tem agido no sentido de se precaver contra qualquer eventual problema que possa se transformar em transtorno definitivo. Na última sexta-feira, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, disse que o governo conta com um arsenal a ser usado no momento adequado. Apesar dessas ações, até agora ainda não apareceu “solução” para o câmbio.

O mais engraçado é que não falta dólar no mercado. Até o último dia 26 de setembro, segundo informações do próprio Banco Central, o fluxo cambial estava positivo em US$ 2,7 bilhões. O déficit financeiro de US$ 3,51 bilhões foi coberto pelo saldo comercial de US$ 6,26 bilhões. O que explica, então, a disparada de quase 17% na cotação da moeda norte-americana em setembro? O que explica a ausência quase completa de linhas de crédito para exportação? Simples: especulação. Por mais que o controle e as regras do sistema financeiro nacional sejam considerados rígidos e bem estruturados, as autoridades reguladoras não conseguem impedir a especulação. O fluxo visto no mês passado desmente contágio capaz de exigir medidas anticrise por parte do governo, desautoriza elevações de juros em linhas de crédito e dissipa temores relacionados a pressões cambiais sobre a inflação que exigiriam prontas respostas altistas da política monetária.

Se há constatação de que a contaminação cambial inexiste, a estratégia do mercado pode estar dando certo. No mercado interbancário de reais, pode estar havendo um empoçamento de liquidez, destinado a forçar o BC a reduzir ainda mais as alíquotas dos compulsórios, muitas vezes confundido com uma contração geral do crédito capaz de desaquecer a demanda e levar a autoridade monetária a iniciar logo o ciclo de declínio da taxa Selic. A interferência do mercado também existe no Brasil.

Veículo: DCI Opinião 06/10/08 Estado: SP