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Infraestrutura: Companhia de logística Júlio Simões pede autorização para fazer oferta pública

Por Graziella Valenti, de São Paulo 

A empresa de serviços logísticos Julio Simões levou à Comissão de Valores Mobiliários (CVM) seu pedido para fazer uma oferta inicial de ações no Novo Mercado. Embora a companhia ainda não tenha divulgado os detalhes da operação, a diretoria já tem permissão para elevar o capital em até R$ 1 bilhão. A oferta será composta de uma parcela primária, na qual o dinheiro vai para o caixa da empresa, e outra secundária, em que os recursos ficam para os sócios que venderem parte de suas ações.
 
O passo dado pela Julio Simões evidencia dois movimentos recentes do mercado de capitais brasileiro. O primeiro é a chegada de mais empresas à bolsa que de alguma maneira estão relacionadas à necessidade de investimentos em infraestrutura no país. O segundo, consequência do primeiro, é o mais novo mantra das ofertas de ações: os bilhões que serão demandados em obras pela Copa de 2014, a Olimpíada de 2016, o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e projeto do governo “Minha Casa, Minha Vida”.
 
Não há um número preciso que some todas essas iniciativas, mas alguns banqueiros se arriscam a dizer que o Brasil movimentará algo em torno de R$ 700 bilhões em dez anos. A crença é que esse discurso – pelo tamanho das cifras – atraia os investidores, especialmente os estrangeiros, para as empresas ligadas a infraestrutura.
 
Das seis ofertas iniciais que aguardam registro na CVM, metade já traz Copa, Olimpíada e PAC como mote de crescimento – Mills e Ecorodovias, além da Julio Simões. Juntas, essas três operações têm potencial para movimentar perto de R$ 4 bilhões. O tema infraestrutura está, neste momento, até mesmo superando consumo.
 
Embora a construção de argumentos possa, num primeiro momento, soar como música aos ouvidos dos investidores, não há expectativa de euforia em torno dessas operações. Ao contrário, a aposta é que as decisões de aplicação continuem mais racionais do que no passado, com análise mais cuidadosa dos preços sugeridos.
 
No caso da Julio Simões, o argumento é que esses eventos favorecerão investimentos em infraestrutura de transporte. O fato atinge em cheio a companhia, que presta serviços que vão desde o gerenciamento da cadeia de suprimentos, até a gestão dos fluxos de estoque, o gerenciamento e a terceirização de frotas e ainda o transporte de cargas e passageiros.
 
No ano passado, a empresa teve receita líquida de R$ 1,5 bilhão, mantendo o mesmo patamar registrado já em 2008, e o lucro líquido foi de R$ 62,9 milhões.
 
O objetivo da Julio Simões é utilizar os recursos levantados fazer aquisições, ampliar seu capital de giro e reduzir dívida. Em dezembro, a empresa tinha endividamento total de R$ 1 bilhão, considerando empréstimos, financiamentos e operações de leasing, para um caixa de R$ 111 milhões. A companhia pretende pagar R$ 303 milhões para reduzir suas responsabilidades financeiras.
 
O setor de infraestrutura na Bovespa é carente de representantes. Investidores interessados em apostar nos negócios que serão gerados pela realização da Copa do Mundo e da Olimpíada no Brasil não têm uma carteira de grandes expoentes para aplicar. O mais bem representado é segmento de logística, com empresas como ALL, Log-in, CCR, OHL e Tegma.
 
A expectativa é que a partir de agora mais companhias da cadeia de serviços venha para a Bovespa, em busca de recursos para crescer com as oportunidades e consolidar empresas menores. Contudo, os grandes nomes- como as maiores empreiteiras do país Andrade Gutierrez, Camargo Corrêa e Odebrecht – não são esperados no curto prazo.
 
A Mills Estruturas e Serviços de Engenharia é um exemplo típico da cadeia de serviços buscando seu espaço. A companhia, com receita líquida de R$ 404 milhões em 2009, acredita que seu ramo de atividade será fortemente impactado pelo PAC e pelos eventos esportivos. Ela quer levantar R$ 500 milhões para comprar equipamentos e surfar a próxima onda de investimentos.
 
A Primav Ecorodovias – que liga a capital paulista a Santos e ao Vale do Paraíba, com os sistemas Anchieta-Imigrantes e Ayrton Senna-Carvallho Pinto – entende que nos próximos anos será de grande necessidade o investimento em infraestrutura logística no país. A empresa teve receita líquida de R$ 1bilhão no ano passado, com lucro líquido de R$ 192,4 milhões. Fechou dezembro com dívida total de R$ 1,7 bilhão, caixa de R$ 390 milhões e pretende levantar até R$ 2 bilhões na bolsa.
 
Além da Copa e da Olimpíada, programas ou iniciativas do governo federal sobre setores específicos também são um fator de estímulo às ofertas de ações. O “Minha Casa, Minha Vida” antes mesmo de ser tema para Mills, levou as construtoras já listadas a buscar mais R$ 4,5 bilhões na bolsa. Agora é a vez da Gafisa, cuja operação pode movimentar até R$ 1 bilhão.
 
Até a mesmo a OSX, a mais nova candidata à companhia aberta do empresário Eike Batista, têm uma mãozinha das decisões do governo federal. A companhia de estaleiros é beneficiada pelo fato de o governo ter colocado em 70% o percentual nacional mínimo exigido nas contratações de equipamentos para exploração.
 
Das novatas da Bovespa, Renova Energia e BR Properties são as mais descoladas do mote do momento. A Renova, geradora de energia a partir fontes renováveis e pequenas centrais hidrelétricas (PCHs) pretende obter R$ 800 milhões. Já a BR Properties, fruto de uma iniciativa da GP Investimentos, atua no ramo imobiliário, mas de uso comercial.

Veículo: Valor 17/02/2010