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Dados divulgados ontem pelo Banco Central registram deterioração nos principais indicadores de inadimplência dos empréstimos bancários. A taxa de inadimplência no crédito livre subiu de 4,6% para 4,8% da soma das carteiras dos bancos entre janeiro e fevereiro, alcançando o percentual mais alto desde maio de 2002. As provisões para cobrir perdas em operações de crédito cresceram 16,9% no período, o que equivale a um reforço de R$ 11,428 bilhões. Os bancos também rebaixaram a classificação de risco de parte relevante de suas carteiras de crédito.
O aumento da inadimplência foi particularmente mais forte na carteira de empréstimos a empresas. A taxa de inadimplência, que considera as operações com atraso superior a 90 dias, passou de 2% para 2,3% de janeiro para fevereiro. Já as operações vencidas entre 15 e 90 dias subiram de 2,4% para 2,6%.
O aumento da inadimplência foi generalizado, atingindo as principais linhas de empréstimos. A taxa passou de 6,6% para 6,9% no desconto de duplicatas, de 2,9% para 3,3% no desconto de promissórias e de 1,6% para 1,9% no capital de giro, sempre entre janeiro e fevereiro. Houve deterioração no índice de inadimplência inclusive em linhas com funding em moeda estrangeira. É o caso, por exemplo, das operações de Adiantamento sobre Contrato de Câmbio (ACCs), que subiu de 0,7% para 0,8%, e nos repasses externos, que passaram de 0,1% para 0,3%.
O chefe do Departamento Econômico do BC, Altamir Lopes, afirma que o aumento da inadimplência foi causado pela restrição de crédito observada a partir de setembro. “As empresas, sobretudo as pequenas e médias, não estão tendo acesso ao crédito e, por isso, encontram dificuldades para rolar seus empréstimos”, disse.
No crédito livre a pessoas físicas também houve piora, embora mais contida. As operações vencidas há mais de 90 dias passaram de 8,2% para 8,3% da soma das carteiras dos bancos entre janeiro e fevereiro. Nas operações vencidas entre 15 e 90 dias, o percentual subiu de 7,1% para 7,2% no período. A piora na inadimplência se restringiu aos financiamentos de veículos (os atrasos superiores a 90 dias subiram de 4,6% para 4,8%, sempre entre janeiro e fevereiro) e financiamento de outros bens duráveis (13,8% para 14%).
Uma explicação para a alta da inadimplência dos financiamentos de veículos é que, nos últimos anos, houve migração das operações do financiamento tradicional de veículos para operações de leasing, isentas de Imposto sobre Operações Financeiras . Assim, o tempo média de vida da carteira de financiamentos tradicional de veículos está aumentando e, junto, a inadimplência. Não há estatísticas disponíveis sobre juros e inadimplência do “leasing“.
Os dados acima se referem apenas ao chamado crédito livre, que engloba as operações de crédito com juros livremente pactuados entre bancos e clientes. Quando é incluído o chamado crédito direcionado, como habitação e rural, que têm juros limitados pelo governo, a inadimplência cresceu de 3,3% para 3,4% entre janeiro e fevereiro.
As provisões cresceram 16,9% entre janeiro e fevereiro. O reforço de provisão foi mais forte nos bancos privados (alta de 28,8%) que nos públicos (10,4%) e estrangeiros (3%).
Lopes disse que, em fevereiro, os bancos finalmente começaram a constituir de fato as provisões que vinham anunciado desde fins de 2008. No ano passado, o BC criou incentivos às provisões adicionais, ao permitir que fossem abatidas no cálculo dos níveis mínimos de capital exigidos dos bancos.
O sistema financeiro também rebaixou as notas atribuídas às suas operações de crédito. Os bancos são obrigados a classificar suas operações de crédito com nove notas, que vão de AA a H, numa escala em que, quando maior a letra, maior o risco. As operações consideradas risco 1, que inclui operações com risco entre D e G, aumentaram 11,6% entre janeiro e fevereiro. Operações classificadas como risco normal, com notas entre AA e C, encolheram 0,7%. Operações com nota H, tidas como praticamente perdidas, subiram 6,4%.
Veículo: Valor Economico