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Impostos no país são os vilões dos preços altos, afirmam montadoras

Marli Olmos, de São Paulo

Os dirigentes da indústria automobilística costumam apontar a carga tributária como único vilão dos altos preços dos automóveis no Brasil. E, dessa forma, o consumidor nunca sabe se a diferença entre o preço que ele paga aqui e o mais baixo que ele vê no exterior vai para o bolso do fabricante do carro ou para o governo.
 
Como no Brasil a oferta de crédito é bem maior que na Argentina, a indústria aproveita o mercado que se sustenta e cresce à medida em que aumentam as facilidades para o financiamento. No ano passado, o saldo total das carteiras de crédito direto ao consumidor (CDC) e leasing para aquisição de veículos por pessoas físicas somou R$ 157,1 bilhões, o que representa aumento de 12,9% em relação a 2008. Se no Brasil, 70% dos carros são pagos em prestações, na Argentina ocorre o inverso. O financiamento aparece em 30% das vendas.
 
Em relação aos impostos, a carga brasileira é, de fato, uma das mais elevadas do mundo. Mas já foi maior. Ao longo dos anos, as montadoras recorreram a diferentes apelos para convencer o governo a reduzir os impostos dos modelos mais vendidos. Foi assim com o carro popular e agora com o do motor flex, que funciona com gasolina ou álcool.
 
Na faixa de motorização 1.0 a 2.0, que engloba praticamente todos os automóveis fabricados no Brasil, os impostos somam 26,4% (sem levar em conta o IPI menor, em vigor até o final deste mês). É o dobro da Espanha. O carro brasileiro carrega carga de tributos bem mais elevada que os carros alemães (16%), japoneses (9,1%) e Estados Unidos (6,1%). Os argentinos não conseguem definir ao certo a carga sobre veículos. Apenas o IVA (imposto sobre valor agregado) é 21%. Mas, segundo as entidades que representam indústria e concessionários, com a soma de outros impostos e contribuições, o total pode passar dos 47%.
 
O comando das montadoras do Brasil e também da Argentina se concentra no Brasil, já que praticamente todas as empresas têm fábricas dos dois lados da fronteira. Ao serem questionados sobre a existência de filas de espera e sobre a diferença de preços, as montadoras trouxeram muito pouca informação.
 
Por meio das assessorias de imprensa, a Volkswagen não confirmou existência de filas. A General Motors informou que não ia se pronunciar sobre o assunto. O grupo PSA Peugeot Citroën não respondeu.
 
A resposta mais completa veio da Ford. A montadora não confirmou as filas e disse que tanto a fábrica de Pacheco, na Argentina, como as de São Bernardo (SP) e Camaçari (BA) estão conseguindo atender à demanda dos dois países. Segundo a Ford, a diferença nos preços praticados em cada mercado se justifica “pela diferença na carga tributária que incide sobre os veículos comercializados no Brasil, pelos diferentes acordos comerciais firmados com os distribuidores de cada país e pelos custos adicionais do processo de exportação, bem como pelas diferenças técnicas existentes entre os veículos”.

Veículo: Valor 09/03/2010