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IFRS e a nova Valuation

O International Financial Reporting Standards (IFRS) chega em 2011adaptando as empresas brasileiras ao arcabouço contábil adotado em 120países. Caem os mitos acerca da “velha Contabilidade”, que tinha no contadoruma figura passiva diante da excessiva inflexibilidade de regras, quegradativamente afastaram balanços e balancetes da posição de espelho da situação real das companhias.

A “velha Contabilidade”, inaugurada pelo Frei Luca Pacciolo, então prefeito do
Vaticano em 1494, foi construída ao redor de uma economia de transações
físicas (indústria e agricultura) e minimizava o fator interpretação. A grande
novidade do IFRS, em um mundo agora predominantemente de serviços, é a
base em “princípios”, que até podem fazer duas empresas contabilizarem fatos
idênticos de forma diversa.
 
A grande novidade é a maior abertura para reavaliações no valor dos ativos
(fins de investimento e disponíveis para a venda), além de instrumentos
financeiros. Cria-se a conta de “Ajuste de Avaliação Patrimonial” (deemed cost
ou custo atribuído, diferença entre o custo histórico e o valor de mercado)
inserida no Patrimônio Líquido, que não passa por resultado e é sensibilizada
sempre quando há volatilidade importante nos preços. Já os ativos
operacionais que geram caixa para a empresa (máquinas, estoques em geral e
qualquer ágio, por exemplo), passarão pelo chamado teste de impairment
(prejuízo, dano, perda de capacidade). Essa perda/ganho de valor pode advir
de mudanças tecnológicas ou legais, obsolescência, danos físicos ou outros
motivos. O impairment é uma despesa operacional, tal como a depreciação,
que deixa de ter regras pré-definidas; ou seja, cada empresário deverá definir o
tempo de depreciação de sua máquina, além da existência de valor residual.
 
Todas as companhias serão obrigadas a apresentar três resultados: o
societário tradicional (dentro das novas regras), abrangente (soma o societário
ao ajuste de avaliação patrimonial) e o fiscal (vale para o pagamento de
impostos). Cabe ressaltar que, para a Receita, a introdução do IFRS
simplesmente “não começou”, ou seja, prevalece a “velha Contabilidade” para
cálculo de tributos. Adicionalmente, o IFRS exige a divulgação mais detalhada
das Partes Relacionadas, fluxo de caixa, contabilidade gerencial por segmento
e potencial emissão de novas ações (diluição).
 
Essa flexibilidade desafiará os analistas a entender os métodos dentro de cada
empresa para comparações mais corretas entre elas e em relação ao passado.
Muda o cálculo de todas as leituras de lucro (bruto, operacional, Ebitda e
líquido), tal como o valor dos patrimônios que, desde 1995, com o fim da
Correção Monetária do Balanço, sempre passavam a sensação de
subavaliação, sobretudo em setores capital-intensivos. Portanto, múltiplos (ex.:
P/L, P/VPA, EV/Ebitda) e indicadores de retorno—margens e giro—sobre
patrimônio e ativo), devem ser reestimados.
 
Apesar da inevitável confusão da transição e elevação de custos de auditoria, a
maior contribuição do IFRS é exigência expressiva de informações, seja no
âmbito quantitativo ou qualitativo. A discussão entre os possuidores de
interesse na firma — minoritários, controladores, credores, Governo e
sociedade — tende a ficar bem mais fundamentada, elevando as chances de
criação de valor através da alocação eficiente de recursos (política de
investimento, financiamento e distribuição).

Alexandre Póvoa – Presidente do Modal Asset Management.

Veículo: Brasil Econômico – 18/07/2011