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Ao dobrar a tributação das operações de crédito à pessoa física, o governo mandou um recado inequívoco de que pretende conter a demanda e, por tabela, a inflação. O aumento do IOF anunciado ontem pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega, faz parte de um conjunto de iniciativas macroprudenciais que tem o objetivo de potencializar a política de juros. E analistas não descartam a adoção de outras providências pela autoridade monetária.
Para Octavio de Barros, diretor do Departamento de Pesquisas e Estudos Econômicos do Bradesco, a decisão do governo tem duas leituras. A primeira é de contenção da demanda e aponta a necessidade de elevação do custo das operações para reduzir o consumo. A segunda leitura é a do regulador [BC] que vem indicando que o crédito deveria crescer até 15% por razão prudencial. “Olhando para frente, na ótica de preços e quantidades, a autoridade está mostrando que ao spread atual, expansão de crédito a 20% ou 25% ao ano implica correr o risco de bater o carro no muro. Nessa ótica da autoridade monetária, a capacidade de pagamento das operações fica comprometida”, pondera Barros.
Ele considera a possibilidade de adoção de novas medidas macroprudenciais, mas lembra que o conjunto de instrumentos que compõe ações de política monetária também contempla a questão fiscal. “Nossas pesquisas sugerem que o mês de março deve apresentar resultado bem razoável da política fiscal”, comenta Barros que reconhece uma opção preferencial das autoridades monetárias por um mix de política onde o juro faz parte. “Aumento de juro (Selic) faz parte. Trabalhamos com projeção de mais duas elevações de 0,25 ponto percentual cada. Mas tudo depende das informações que são atualizadas dia a dia”, alerta.
José Francisco de Lima Gonçalves, economista-chefe do Banco Fator, considera o aumento de IOF para 3% medida importante exatamente para conter o crédito para pessoa física. “É sem dúvida um desincentivo ao endividamento”, diz.
Felipe Tâmega, economista-chefe do Modal, concorda que o governo está demonstrando claramente disposição para conter o consumo. “A medida revela o que está na cabeça da equipe econômica, que vê descompasso entre demanda e oferta. Esse descompasso é evidente nas estatísticas das vendas no varejo que seguem em forte alta e da produção industrial, que anda de lado desde meados do ano passado.”
Este economista lembra que esse descompasso gera inflação de custo. “Hoje, seria necessário, de fato, conter o consumo e ampliar a oferta. Essa tributação é bem focada e indica que o governo não está perseguindo a desaceleração da economia como um todo pura e simplesmente. O governo está mirando a demanda. Ao fazer isso, a perspectiva é de queda do consumo que tende a ser compensado por investimentos [para ampliar a oferta].”
Tâmega esclarece ainda que ao conter o crédito às pessoas físicas, o governo tende a deslocar o crédito para investimentos. “Na prática, esse deslocamento gera funding para os investimentos.”
Veículo: Valor – 08/04/2011