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O governo estuda novas formas de financiar o setor agrícola com o esgotamento das fontes externas. Estudos do Banco Central direcionam com a possibilidade de aumentar a vinculação da parte dos depósitos à vista, com remuneração pela taxa Selic, a fim de manter a liquidez no financiamento ao segmento. A medida seria adotada em caráter transitório, valendo apenas durante o período em que o crédito continuar travado e caro. Por lei, 25% dos depósitos à vista e 65% dos recursos da poupança rural devem ser investidos em crédito rural. Em março, o Conselho Monetário Nacional (CMN) flexibilizou a exigibilidade das aplicações dos recursos das instituições que operam com caderneta imobiliária ou rural, o que permitiu o aumento do número de bancos que emprestam à área agrícola.
Entre 2005 e 2007, as instituições financeiras que operam com comércio exterior no Brasil conseguiam captar com outros bancos lá fora pagando, em média, cerca de 0,5% acima da Libor, a taxa de referência no mercado internacional. Com o prenúncio de agravamento da crise, esse custo adicional dobrou no primeiro semestre deste ano para 1,1%. No campo, a pressão sobre os financiamentos do Banco do Brasil (BB) é cada vez maior, pois as tradings, que tradicionalmente financiam a atividade agrícola também diminuíram a oferta de crédito aos produtores por causa da volatilidade dos preços dos grãos nas bolsas de mercados futuros.
Ontem o ministro da Fazenda, Guido Mantega, anunciou que o Banco do Brasil começou a antecipar a liberação de R$ 5 bilhões em crédito para a agricultura, afetada pela crise financeira internacional.
Na semana passada, o BC anunciou duas medidas para dar mais liquidez ao mercado de crédito brasileiro. A primeira medida foi adiar o cronograma de implantação do recolhimento compulsório sobre operações de leasing. Com a mudança, o recolhimento com base na alíquota de 20%, que seria feito a partir de 14 de novembro de 2008, passa a vigorar em 16 de janeiro de 2009. A previsão do BC é que a medida deixe na economia R$ 8 bilhões, beneficiando financiamentos de carros e bancos de grande porte, principais donos das empresas de leasing. A segunda medida foi ampliar de R$ 100 milhões para R$ 300 milhões o valor a ser deduzido pelas instituições financeiras do cálculo da “exigibilidade adicional” sobre depósitos a prazo, depósitos de poupança e recursos à vista. Segundo cálculos do BC, a medida injetará imediatamente R$ 5,2 bilhões na economia, completando os R$ 13,2 bilhões. Essa mudança beneficia principalmente bancos médios e pequenos. Sem crédito externo para suas operações, esses bancos estavam sem oxigênio.
O governo acelera os planos para liberar mais crédito para o agronegócio e para exportações. Os dois setores são os que mais padecem com a escassez de empréstimos – conseqüência da crise externa – e precisam ser atendidos de imediato, na avaliação da equipe econômica. Para o agronegócio, o governo planeja aumentar a fatia de depósitos à vista que os bancos destinam ao setor. Pela lei atual, 25% desses depósitos devem ser investidos no campo. Além disso, Guido Mantega anunciou ontem que o Banco do Brasil começou a antecipar a liberação de R$ 5 bilhões em crédito rural.
No comércio exterior, há preocupação com o aumento do custo das operações. Entre 2005 e 2007, as instituições financeiras que operam no setor conseguiam captar com outros bancos no exterior pagando, em média, 0,5% acima da Libor, a taxa de referência no mercado internacional. Depois da crise, o ágio saltou para 1,1%. Mais ainda, a oferta de empréstimos a exportadores despencou 51,7% nas operações de Adiantamento de Contrato de Câmbio (ACC). A média diária desses contratos, entre 15 e 26 de setembro, foi de US$ 164,9 milhões, ante US$ 342 milhões nas duas primeiras semanas do mês. Welber Barral, do Ministério do Desenvolvimento, disse que a preocupação em relação às exportações do próximo ano é a carência de crédito. E o presidente Lula garantiu que “não tem pacote”, embora o governo priorize a manutenção do crédito.
Por precaução, empresas antecipam captações: nos dois últimos dias, quatro companhias anunciaram emissões. A maior será a da Vivo, que vai emitir R$ 550 milhões em notas promissórias. Ontem, a Duke Energy anunciou emissão de R$ 340,8 milhões em debêntures.
Veículo: DCI Finanças 02/10/08 Estado: SP