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Falta financiamento de longo prazo em 2010

Um dos maiores desafios da economia brasileira em 2010 será desenvolver mecanismos de financiamento de longo prazo. Não será mais possível contar apenas com o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), principal fonte de recursos deste ano. A grande esperança é a consolidação da retomada do mercado de capitais, que começou a exibir reação nos últimos meses. Recentemente o governo anunciou a criação da letra financeira, título de captação dos bancos que ainda precisa ser regulamentado.

 Um dos principais instrumentos do governo para mitigar a crise econômica, o BNDES cresceu muito neste ano. Seu tamanho mais do que dobrou: a carteira de crédito passou de R$ 60 bilhões em 2008 para R$ 130 bilhões. A atuação do BNDES com a oferta de recursos de longo prazo foi vital em um cenário de mercado de capitais fechado tanto no exterior como no Brasil, e bancos retraídos.
 
O BNDES é a alternativa do governo para financiar investimentos em infraestrutura, bens de capital, exportações e tecnologia. Será o grande financiador do trem de alta velocidade que será construído entre São Paulo e o Rio e das usinas hidrelétricas do rio Madeira. O governo quer elevar a taxa de investimento de cerca de 16% do Produto Interno Bruto (PIB) para 24% a 25% até 2015.
 
Para sustentar o salto do BNDES, a principal fonte de recursos foi o Tesouro. Na semana passada, o banco recebeu mais R$ 80 bilhões do Tesouro. Anteriormente neste ano já tinha recebido R$ 100 bilhões. Outras fontes de recursos estão bem menos pródigas. A contribuição do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT) foi de apenas R$ 9,5 bilhões neste ano.
 
O uso de recursos do Tesouro custa caro. O Tesouro capta dinheiro no mercado com a emissão de títulos pelos quais paga a taxa Selic (8,75%), mas cobra bem menos do BNDES. O crédito já repassado neste ano foi liberado em sete parcelas, remuneradas a TJLP (6% ao ano) mais zero, 1% e 2,5%; e correção cambial mais 5,98%. Além disso, o Tesouro banca o subsídio dos juros cobrados dos tomadores de crédito do BNDES, o que custou R$ 1,6 bilhão neste ano. (Valor, 11,12 e 13/12).
 
Diante dessa fatura salgada, que complica ainda mais o manejo das contas públicas, espera-se que o lançamento das letras financeiras permita aos bancos privados oferecer crédito de longo prazo. Os novos títulos devem ser criados por medida provisória e regulamentados pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), nesta semana. Os bancos esperam que as letras financeiras tenham prazo mínimo de 2 anos. Conforme o prazo de emissão, poderão até ser consideradas dívida subordinada, ajudando a engrossar o capital.
 
Não está certo se haverá recolhimento de depósitos compulsório sobre esses títulos. A Fazenda é contra o compulsório porque encarecerá o custo de captação e, portanto, os juros cobrados dos tomadores. A preocupação faz sentido uma vez que a intenção é oferecer uma alternativa de crédito ao BNDES, que cobra 4,5% para financiar a compra de máquinas e equipamentos e 7% de caminhões e ônibus.
 
Já o Banco Central (BC) não quer ficar sem um mecanismo que lhe permita controlar essa fonte de recursos. A isenção de compulsório na captação das empresas de leasing deu muita dor de cabeça no passado. Essas empresas teriam ainda um estoque de R$ 100 bilhões que foram repassados aos bancos do grupo.
 
A estimativa do mercado é que o novo título poderá captar de R$ 10 bilhões a R$ 20 bilhões no próximo ano. Os compradores serão preferencialmente investidores institucionais por causa do prazo de emissão. Os papéis também poderão ser objetivo de oferta pública, o que abrirá espaço para o surgimento de um mercado secundário, viabilizando o alongamento do prazo. Os certificados de depósito bancário (CDB), atualmente a principal fonte de captação de recursos dos bancos junto ao público, já podem ser emitidos a prazos longos, mas isso não ocorre por causa da inexistência de mercado secundário.
 
Como a letra financeira pode não deslanchar rapidamente, o mercado de capitais é a alternativa mais viável para o crédito do BNDES. O mercado de capitais começou 2009 devagar, mas acabou reagindo no segundo semestre e é uma boa fonte de recursos de longo prazo se estiver azeitado. Apesar da turbulência internacional, o volume de emissão de ações cresceu 20,3% sobre 2008 para R$ 45,7 bilhões; e o debêntures saltou 115,6% para R$ 19,2 bilhões.
 

Veículo: Valor 15/12/2009