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Endividamento Pessoal

Em cinco anos, aumentou de 10 milhões para 23 milhões o número de pessoas com dívidas superiores a R$ 5 mil, segundo o Sistema de Informações de Crédito (SCR) do Banco Central. Até agora, não preocupava o crescimento dos financiamentos, pois o Brasil está entre os países com baixa relação entre o crédito e o PIB. Mas, a partir de agora, será melhor que endividamento e renda pessoal caminhem mais próximos, para evitar um recrudescimento da inadimplência.

O crédito em geral expandiu-se muito, passando de 25% do PIB, em fins de 2003, para 45,9% do PIB, em outubro ? e já é projetado em mais de 50% do PIB, em 2010. O crédito tornou-se um fator decisivo para a aceleração do ritmo da economia.

Com informações provenientes dos bancos e de agentes financeiros, além de companhias hipotecárias, agências de fomento, leasing e cooperativas de crédito, o SCR passou a avaliar de perto o endividamento dos clientes e os riscos para as instituições. O balanço, até o momento, é favorável.

Após a crise global, os bancos reduziram a oferta de crédito às empresas, com a exceção das grandes companhias, e aumentaram os empréstimos às pessoas físicas. Entre setembro e outubro, o crédito às pessoas jurídicas cresceu 1,4% e às físicas, 1,9%. Entre janeiro e outubro, o porcentual de aumento do crédito individual quase dobrou em relação ao crédito às empresas ? e a tendência tende a permanecer, graças aos aumentos reais dos vencimentos do funcionalismo público, do salário mínimo, das aposentadorias e dos salários de grande parte dos trabalhadores do setor privado, que estimulam a tomada de empréstimos e a antecipação do consumo.

Conforme os dados do SCR, não mudou muito o número dos maiores tomadores de crédito: são cerca de 4 milhões de famílias, cujas dívidas são da ordem de R$ 430 bilhões. Nos últimos anos, muitos trocaram dívidas de alto custo, como o cheque especial, o cartão de crédito e os empréstimos pessoais, por outras mais baratas, como o crédito consignado e as operações de crédito imobiliário. Assim puderam reduzir o valor das prestações. Em muitos casos, a mudança permitiu quitar dívidas antigas e onerosas e recuperar a capacidade de tomar crédito. 

Entre outubro de 2004 e outubro de 2009, as operações de crédito consignado passaram de 39,1% para 65,7% do total do crédito às pessoas físicas, enquanto o crédito pessoal tradicional caia de 60,9% para 34,3%. O crédito consignado teve custo médio de 27,2% ao ano, em outubro, segundo dados do Banco Central, menor que a média de 45,7% do conjunto de empréstimos às pessoas físicas. Os grandes bancos dão preferência ao crédito consignado devido ao baixo risco de calote, pois o desconto das prestações é feito na folha de pagamentos das empresas ou dos órgãos públicos. Além disso, segundo analistas, há uma tendência de aumento dessas operações feitas por aposentados, que dependem dos benefícios da Previdência para custear planos de saúde e a compra de remédios.

Para reduzir riscos, grandes bancos têm evitado as operações com não clientes, dos quais cobravam juros elevadíssimos, sem exigir garantias. Essa fatia de mercado passou a ser disputada por pequenos e médios bancos. Mas têm crescido as operações com cartões de crédito, que substituem empréstimos pessoais ou o crédito direto ao consumidor. O maior risco é o uso do limite rotativo dos cartões, que cresceu 33% em 12 meses, até outubro. São operações lucrativas para os bancos, mas danosas para os clientes que não sabem fazer a conta dos juros escorchantes que lhes são cobrados.

Ainda são moderados os níveis de inadimplência, de 8,1%, em outubro, meio ponto de porcentagem mais do que em outubro de 2008 e abaixo do nível mais alto de 8,6%, alcançado em maio.

Com a expectativa de aumento do emprego e da renda em 2010, é previsível nova elevação dos níveis de crédito. Estima-se que os brasileiros com dívidas tenham, hoje, em média, um endividamento inferior a 40% da renda. É conveniente que o endividamento não ultrapasse esses níveis, para evitar um surto de inadimplência.

Veículo: O Estado de São Paulo 03/01/2010