A falta de confiança do investidor fez do primeiro mês de 2009 o pior janeiro dos últimos 5 anos em emissões de ações, debêntures, notas promissórias, certificado de recebíveis imobiliários (CRI), fundos de investimento em direitos creditórios (Fidc) e fundo de investimento em participações (Fip), registrados na Comissão de Valores Mobiliários (CVM). O montante acumulado em janeiro de 2009 ficou em R$ 3,6 bilhões, contra R$ 18,4 bilhões no mesmo período do ano passado, correspondente a uma queda de 80, 43%. Se comparado com janeiro de 2004, o aumento foi de 80%, quando haviam sido emitidos R$ 2 bilhões.
Para o professor de Derivativos e Riscos do Ibmec São Paulo Alexandre Jorge Chaia, esta queda se justifica por conta de um mercado mais exigente devido à crise financeira. “Nas emissões de ações, o risco está muito alto, isto serve também para as em emissões de debêntures e notas promissórias. O mercado tem exigido mais com a chegada da crise.”
“Tudo isso faz parte do cenário que estamos vivendo atualmente. As debêntures aqui no Brasil não estão com muita liquidez. A aversão ao risco faz com que as emissões de ações fiquem paralisadas no momento, porém esta é uma melhor emissão do que as debêntures”, afirma José Goes, economista da WinTrade, home broker da Alpes Corretora.
No ano, a liderança entre as emissões, por quantidade, é de notas promissórias, com volume financeiro de R$ 918 milhões, com 6 operações realizadas. A segunda e terceira estão com Fidc e Fip, com R$ 895 milhões e R$ 1,2 bilhão, respectivamente, ambos com 4 operações realizadas. Nas ofertas em análise na CVM, o Fidic lidera com 11 operações a serem realizadas, que podem gerar um montante de R$ 1,2 bilhão. Em seguida aparecem as emissões de CRI, com 5 negociações em análise, mas com apenas R$ 143 milhões de movimentação.
“Fidc, CRI e Fip foram prejudicados pela falta de crédito e de financiamento para pessoa física. Mas está havendo um crescimento em empréstimos para empresas. As emissões primárias estão com preços muito elevados, isso também prejudica em qualquer ocasião”, diz Chaia.
Os analistas ouvidos pela nossa reportagem não mostraram muito otimismo, pelo menos para este primeiro semestre. “Enquanto o mercado permanecer como está, não teremos muitas emissões para o primeiro semestre deste ano. Vamos esperar pela reversão deste quadro”, diz Goes.
Chaia também não está muito otimista com este semestre, mas acredita em uma mudança para o segundo período do ano. “É complicado fazer uma previsão para todo o ano, mas este primeiro semestre está comprometido. Se a crise fincar em um patamar de menor risco, podemos ter algum tipo de emissão para o segundo semestre”, acredita o professor.
José Goes acredita que a emissão fora do Brasil pode trazer um maior retorno em recursos para a companhia emissora. “Lá fora tem muito mais liquidez e também tem muito mais dinheiro, mesmo com a crise”, afirma ele.
A Bradespar, braço do Banco Bradesco, aproveitou o momento de paralisação no mercado para realizar duas emissões no começo deste ano, a soma de cujo montante chegou a R$ 1,3 bilhão. A primeira foi uma emissão de debêntures, com que a companhia conseguiu captar R$ 610 milhões. Logo em seguida, a Bradespar resolveu fazer uma emissão de notas promissórias, com que foram captados mais R$ 690 milhões.
Balanço da Anbid
Segundo balanço realizado e divulgado pela Associação Nacional de Bancos de Investimento (Anbid), “o volume das emissões de renda variável e dívida em janeiro de 2009 apresentou uma redução de 82,7% comparado ao mesmo período de 2008. Neste mesmo período, as emissões de debêntures apresentaram redução de 94,7%, enquanto as Notas apresentaram um aumento de 113,5%. Destaque no período para os Fidc, que aumentaram 676,8%”, diz o relatório.
Ainda segundo a informação dos balanços, “as captações de longo prazo via emissão de debêntures, excluindo as emissões de leasing e empresas do setor financeiro, apresentaram aumento de 43,9%, comparado a janeiro de 2008″, conclui o documento.
Apesar do risco no curto prazo, especialistas classificam as emissões de ações como melhores do que as de debêntures, já que a liquidez pode ser maior com um cenário mais tranquilo. “Primeiro é preciso ver qual será a finalidade do dinheiro para a companhia. As ações se tornam melhores porque é como se fosse uma parceria que o investidor faz com a empresa. Hoje as companhias estão preferindo o baixo grau de endividamento, principalmente para este primeiro semestre do ano”, conclui Chaia.
A Petrobras informou na manhã de ontem que concluiu a oferta de US$ 1,5 bilhão em bônus globais, anunciada na semana passada, com vencimento em 15 de março de 2019 no mercado internacional de capitais, no formato de dívida sênior não subordinada. A operação teve uma demanda 3,5 vezes superior ao seu volume final e atraiu mais de 230 investidores, sendo a maioria dedicada ao mercado de renda fixa de empresas com grau de investimento, segundo a estatal.
Também foi a primeira operação conduzida pelos bancos que facultaram à Petrobras um empréstimo emergencial (empréstimo-ponte) com prazo de dois anos. “Durante este período, a empresa poderá alongar o financiamento, emitindo títulos no mercado internacional de capitais, conforme anunciado durante a divulgação do Plano de Negócios 2009-2013”, destacou o comunicado da companhia.
Os papéis têm cupom de 7,875% ao ano, oferecendo rendimento ao investidor de 8,125%.
Os juros serão pagos semestralmente a partir de setembro de 2009.
No primeiro mês do ano, emissões de títulos corporativos no Brasil somou R$ 3,6 bilhões, o pior desempenho do mês desde 2004. Em relação ao mesmo período do ano passado, a queda foi de 80%.
Veículo: DCI