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Em crise, Detroit abre novas oportunidades

THE NEW YORK TIMES
Com US$ 6 mil e um pouco de fibra, há três meses quatro amigos abriram o único cinema estrangeiro independente de Detroit, no auditório de uma escola abandonada em trecho não iluminado do Cass Corridor, perto do centro urbano. Depois do improvável estardalhaço da noite de inauguração, que teve até tapete vermelho numa zona conhecida pelas drogas e prostituição, apareceram exatamente quatro espectadores para assistir a um filme. Desde então, o Burton Theater tem tido poucas noites de boa bilheteria.

Mas, segundo os proprietários, sua aventura como empreendedores nunca teve como principal objetivo ganhar dinheiro, e sim contribuir para criar uma comunidade em que a vida seja um pouco melhor. “Ninguém compreende o motivo pelo qual abrimos um cinema”, disse um dos investidores, Nathan Faustyn, 25. “Mas, quando você mora em Detroit, se pergunta: O que posso fazer por esta cidade?” 

Apesar da recessão – e em alguns casos, por causa dela – em Detroit pequenas empresas estão brotando numa das mais surpreendentes viradas da crise. Algumas delas algo do tipo do Burton. Outras já foram além dos planos iniciais, atraindo centenas de clientes e expandindo-se em novos locais.

Em frente ao Burton, por exemplo, Jennifer Willemsen acaba de comemorar o primeiro aniversário de sua loja, Curl Up and Dye, um salão de beleza de estilo retrô, que atende 1.500 clientes. Não muito longe dali, Torya Blanchard, ex-professora de francês, abriu recentemente a segunda creperia Good Girls Go to Paris. Ao seu lado, Greg Lenhoff, também ex-professor, montou em agosto uma livraria chamada Leopold”s. E mais adiante, na Woodward Avenue, Victor Both criou a Breezecab, com o dinheiro da rescisão após ser demitido da Wayne State University. Ele usa riquixás para transportar pela cidade os funcionários e pessoas que participam de convenções.

Não é tão incomum criar um empreendimento em épocas ruins, aproveitando do fato de que a concorrência é menor, os custos são mais baixos e há talvez mais tempo livre. Tampouco este espírito empreendedor se limita a Detroit. Mas a tendência é impressionante numa cidade que sofreu muito antes que o restante da nação caísse na recessão, e onde os tempos ruins, com empresas fechando e encerrando as atividades, se tornaram rotina há algumas gerações.

Dizem os especialistas que a paixão pelo empreendedorismo, nos dias de hoje em Detroit e em outras cidades do país, tem um precedente: segundo um estudo de Dane Stengler, analista sênior da Kauffman Foundation, um centro de pesquisas econômicas de Kansas City, Missouri, 50% das empresas na lista das 500 da Fortune, este ano, foram fundadas durante a recessão ou em épocas de mercados em baixa. Além disso – disse Stangler numa entrevista -, a taxa de sobrevivência de empresas até 1977 mostra uma diferença mínima entre companhias fundadas em épocas de expansão e durante recessões.

Para alguns dos novos empreendimentos, os preparativos foram mínimos. “Eu precisei apenas de uma garagem, de um celular e de um site na Internet”, disse Both, que fundou a Breezecab com dois riquixás alugados pelo sistema de leasing.

Veículo: O Estado de S. Paulo 12/01/2010