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Apesar de não ter atingido diretamente os bancos brasileiros, a crise das hipotecas americanas de alto risco (subprime) chamuscou seus resultados. O principal efeito da crise no sistema financeiro brasileiro foi secar as fontes internacionais de recursos. Bancos e empresas tiveram que se voltar para o mercado local. A procura por funding doméstico engrossou depois que o Banco Central (BC) criou um compulsório sobre as operações interbancárias com empresas a leasing, tradicional fonte de recursos para os conglomerados, que inviabilizou as novas transações e penalizou o estoque existente.
Também afetaram negativamente os resultados o aumento da contribuição social sobre o lucro líquido (CSLL) dos bancos de 9% para 15%; as restrições às cobranças de tarifas, especialmente o fim da taxa de abertura de crédito (TAC), e a maior competição.
Levantamento feito pela consultoria Austin Ratings com os dez bancos que já divulgaram os balanços do primeiro semestre mostra que uma inédita estabilidade do lucro líquido desse grupo de bancos, que somou R$ 11,127 bilhões praticamente inalterado em comparação com os R$ 11,126 bilhões do primeiro semestre de 2007. Além disso, a rentabilidade do grupo caiu de 27,8% a 23,6%.
Os resultados só não pioraram porque os bancos aumentaram mais as operações de crédito. Na amostra analisada, a carteira de crédito cresceu 36,1%.
Os grandes bancos de varejo sofreram menos do que os pequenos e médios porque têm um mix de captação diversificado, contando também com depósitos a vista e de poupança, que são mais baratos do que os depósitos a prazo, explicou o presidente da Austin Ratings, Erivelto Rodrigues. De toda forma, o custo de captação dos bancos analisados aumentou 29,1%, mais do que a receita de crédito, que cresceu 18,2%.
Geraldo Travaglia, vice-presidente do Unibanco, que divulgou o balanço ontem, informou que o custo dos CDBs do banco estão ao redor de 101% do CDI, mas o custo médio global de captação do banco fica ao redor de 88% do CDI.
Para os bancos médios, que dependem mais dos investidores institucionais, o custo de captação saiu de 103% do CDI para 106% a 107%, disse Rodrigues.
Os bancos médios especializados no consignado também sofreram mais uma vez que a taxa dessa operação é “tabelada” em 2,5% ao mês e não acompanhou a escalada da captação e o próprio aumento da taxa básica de juros, a Selic, que já subiu 1,75 ponto percentual desde abril, para 13% ao ano.
Luis Octavio Índio da Costa, presidente do Banco Cruzeiro do Sul, felicitou-se por ter ficado fora da corrida pelos empréstimos a beneficiários do INSS, que começou em 2005. O Cruzeiro do Sul decidiu se concentrar nos funcionários públicos, limitando os contratos com beneficiários do INSS a 25% da carteira. Na prática, está em 10%.
Além disso, outra fonte de captação de recursos dos bancos médios, as cessões de carteira, também ficaram mais caras, antecipando-se às novas regras que vão mudar a contabilização das operações de cessão de carteira com coobrigação. Pelo que já foi antecipado, a partir de janeiro de 2009, o ganho obtido com as cessões com coobrigação terá que ser apropriado ao longo do prazo das operações e não mais imediatamente, como antes; e o valor cedido será considerado para efeito do cálculo de alavancagem.
Travaglia afirmou que a queda da Selic no início do ano e a mudança do mix de produtos dos bancos, que buscaram negócios de menor risco mas também de menor retorno – como o consignado, o financiamento de veículos e o crédito imobiliário – reduziram inexoravelmente a margem financeira dos bancos.
A margem financeira do Unibanco, antes das provisões, caiu de 9% dos ativos médios excluído o permanente no primeiro semestre de 2007 para 7,8% em igual período deste ano. A elevação da Selic observada entre o primeiro e o segundo trimestres deste ano já mostra uma melhora, com o índice passando de 7,8% para 8,2%, mas ainda assim inferior ao de 2007.
Para Travaglia, mesmo com a alta do juro, o índice só vai melhor com o aumento dos volumes negociados. Por isso, o vice-presidente do Bradesco, Milton Vargas, ao informou que a participação do crédito nos ativos totais do banco passou de 65,8% para 69%.
A margem financeira também foi afetada pela repercussão das turbulências internacionais nos ativos locais. Os ganhos com tesouraria do Itaú diminuíram de R$ 939 milhões no primeiro semestre de 2007 para R$ 640 milhões em igual período deste ano.
Veículo: Valor Econômico Finanças 8/8/08 Estado: SP