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Demonstrativos ficam mais transparentes

O impacto das normas internacionais IFRS sobre as ações das empresas negociadas em Bolsa de Valores ainda não pode ser inteiramente medido não só porque as mudanças contábeis são muito recentes e os analistas e investidores passam por um período de conhecimento e aprendizado. Mas sobretudo porque o mercado de ações atravessa um momento ruim, de persistente baixa. Em maio, até o dia 24, o Ibovespa registrava desvalorização de 4,2%, ampliando para 8,6% a perda do ano. Um benefício gerado pelas novas regras contábeis pode ser facilmente anulado pelo quadro econômico adverso. Tende, no curto prazo, a perder relevância em relação ao cenário que conjuga desaceleração do crescimento, aperto no crédito, alta do juro básico e incertezas internacionais.

Levantamento da corretora Planner mostra que o lucro líquido de 300 empresas abertas cresceu 41% no primeiro trimestre do ano. Se dessa amostra forem retiradas as gigantes Petrobras e Vale, o avanço desce para o patamar de 14%. Mas não dá para dimensionar precisamente, no entender do gerente de projetos da corretora, Ricardo Martins, qual o tamanho da responsabilidade do IFRS no crescimento do resultado final das companhias. Mas, publicados os balanços sob a égide do IFRS, já foi possível aos analistas comemorar uma vasta gama de aprimoramentos. O trabalho de análise e prospecção dos melhores papéis se tornou muito mais produtivo e consistente. O feito essencial do IFRS foi trazer ao conhecimento geral informações antes restritas ao ambiente interno das companhias. Elevavam-se à categoria de segredos a serem resguardados da curiosidade da concorrência.

O IFRS altera as contas do balanço patrimonial e do demonstrativo de resultados, e exige que seja revelada alguma medida de lucro por segmento operacional, desencadeando a publicação de uma abundante quantidade de informações nas notas explicativas. “As contas das empresas se tornaram muito mais abertas. A análise dos segmentos operacionais era muito complicada antes das alterações”, diz o analista-chefe da corretora SLW, Pedro Galdi. A pura e simples aplicação do conjunto de normas arroladas no IFRS não será capaz de alterar a essência de uma empresa, alerta o presidente da Associação dos Analistas e Profissionais de Investimento do Mercado de Capitais (Apimec-SP), Reginaldo Alexandre. “A empresa é a mesma, antes e depois do IRFS. O que muda é a forma como é mostrada ao mercado”, diz ele.

O que de fato importa é o fluxo de caixa, e este não se altera. Mas, depois do IFRS, as companhias ficaram mais transparentes, visíveis e analisáveis. A melhoria dos processos contábeis é contínua, mas faltava o ponto vital do desmembramento das atividades capazes de gerar receita própria e o impacto de cada resultado individual no balanço consolidado. Os analistas precisavam trabalhar com uma série de suposições nem sempre verdadeiras. Muitas vezes, no entender de Alexandre, o “achismo bem-intencionado” se materializava na sugestão de compra de uma ação que poderia se revelar desastrosa. O IFRS aumentou o grau de escolha e de responsabilidade dos auditores. Os números do balanço são agora muito mais próximos aos valores reais em caixa.

Veículo: Valor – 31/05/2011