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Custo de captação de bancos salta 20 pontos percentuais

A falta de liquidez nos mercados nacional e internacional – situação gerada pela crise financeira mundial – fez com que o custo de captação das instituições financeiras brasileiras, especialmente as médias, saltasse de 108% dos Certificados de Depósitos Interbancários (CDI) para 130% do CDI nos últimos tempos. A informação foi dada ontem ao DCI pela analista de bancos do Banif, Lia da Graça.

“Desde dezembro do ano passado está mais difícil conseguir linhas de financiamento. Mas a situação se apertou muito mais de duas semanas para cá”, explicou a especialista. Informações veiculadas anteontem na imprensa apontavam de que Bradesco, Unibanco e Itaú haviam interrompido a liberação de crédito pessoal por conta da escassez de captação. As três instituições negaram a afirmação. “Quando vai dar uma linha de crédito, o banco precisa fazer a captação fora. Ocorreu que até ontem as linhas e prazos disponíveis para captação não eram suficientes”, explicou Lia. “O Banco Central então deu mais algumas opções de linhas, mas ainda com prazos mais curtos, para dar mais dinheiro ao sistema financeiro”, continuou, referindo-se às três medidas anunciadas ontem pelo governo: garantia do BC a empréstimos feitos para empresas exportadoras, autorização para que o Banco Central possa comprar carteiras de créditos de pequenos e médios bancos, e maior clareza nas operações de leasing. O Conselho Monetário Nacional (CMN) será o responsável pela definição das condições da compra de carteira de instituições financeiras pelo BC. A reunião do conselho ainda não tem data marcada. “O maior problema não é a questão do custo de captação subindo. O mais complicado para as companhias é a escassez do crédito”, avaliou Miguel José Ribeiro de Oliveira, vice-presidente da Associação Nacional dos Executivos de Finanças (Anefac). “Se o custo é maior, as empresas podem repassá-lo. Mas quando não há linhas, a situação fica mais complicada.”

Lia, do Banif, acredita que as medidas anunciadas pelo governo trazem mais liquidez para o mercado, mas apenas para o curto prazo. O problema, portanto, ainda deve continuar. “Isso não é suficiente. Vai impactar nos resultados dos bancos. Eles podem até não ter redução nos lucros, mas será com diminuição nos volumes liberados e aumento da margem. Normalmente, mais de 100% do aumento do custo é repassado”, contou.

Para o analista de instituições financeiras da Austin Ratings, Luís Miguel Santacreu, a compra de carteiras irá beneficiar principalmente aquelas instituições que possuem um descasamento de prazos entre pagamentos e recebíveis. “?? natural imaginar que essas instituições com carteiras longas e captação mais curta são as mais expostas, que possuem mais questões potenciais em relação à falta de liquidez”, acredita.

Para o analista, essa é uma forma de o BC não deixar dúvidas no mercado de que está disposto a ajudar a manter a economia “irrigada”. “Não me surpreenderiam novas medidas do Banco Central ou da Fazenda. Eles estão demonstrando estar de antenas ligadas para lançar o que for preciso”, referindo-se à ações para minimizar os efeitos da crise no País.

Além disso, ele ressalta que a compra de créditos será bem diferente da proposta pelo pacote de ajuda americano. “O BC não irá comprar créditos podres, irá comprar créditos bons e provavelmente irá obter lucro com isso”.

Diz Santacreu que não é uma intervenção, mas uma garantia de liquidez ao sistema.

O analista de bancos da Ágora, Aloísio Lemos, lembra que a questão não envolve apenas os bancos. No fim da linha, diz ele, há o tomador final. “E essas instituições atendem muitas pequenas e médias empresas, que são o motor da economia. Se falta dinheiro em uma ponta, provoca uma reação em cadeia que atinge o sistema todo.” Assim como, continua Aloísio, “se um banco médio encontra-se em dificuldade, atinge todos os elos da corrente”, completa.

Para ele, as medidas são pontuais e enfocadas no curto prazo. “E podem facilitar a entrada do BC para agir mais diretamente no sistema em caso de necessidade.”

Risco

A Fitch Ratings alterou para estável as perspectivas dos ratings dos bancos Daycoval, BicBanco, Panamericano, Pine e Tricury, que estavam em perspectiva positiva. Para a empresa, a atribuição de perspectivas positivas foi determinada pelas expectativas de contínua expansão do crédito em um ambiente de estabilidade do mercado financeiro, e a revisão reflete o ambiente de falta de liquidez e dificuldade de captação.

O Banco Panamericano afirma que a situação do mercado exige cautela e conservadorismo em relação a novos créditos e que vem adotando essa postura junto ao mercado de crédito de veículos e consignados. Em nota, diz que “não parou de operar, apenas está mais restritivo em sua política de aprovação de crédito e alterou suas tabelas de taxas e prazos, deixando-as condizentes com a atual situação de mercado”.

Veículo: DCI Finanças 08/10/08 Estado: SP