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A restrição de crédito provocada pela crise internacional deve dificultar a renovação das dívidas das empresas brasileiras, que somam R$ 11,38 bilhões vencendo nos próximos seis meses no mercado interno, entre emissões de notas promissórias e debêntures, segundo dados da Associação Brasileira de Bancos de Investimento (Anbid).
De acordo com o gerente-executivo da diretoria de mercado de capitais do Banco do Brasil, Gustavo Henrique Santos de Sousa, diante das incertezas em relação ao desenvolvimento da crise, muitas empresas que emitiram dívida no início deste ano optaram por operações com prazos mais curtos, como as notas promissórias, apostando numa melhora das condições de mercado para rolar seus papéis. Só neste ano, as emissões de notas promissórias cresceram 75,93% até outubro em relação ao mesmo período do ano passado, somando R$ 16,4 bilhões. Por outro lado, as captações de recursos via debêntures recuaram 5,71% no período, alcançando em torno de R$ 48 bilhões.
Com o aprofundamento da turbulência no mercado financeiro, entretanto, as opções para novas colocações no mercado de capitais ficaram muito restritas e com o custo muito elevado. “As taxas estão mais elevadas que no início do ano. O mercado para emissões de dívida está sem referência de preço, com os investidores institucionais mais seletivos, dando maior preferência para títulos públicos e Certificados de Depósito Bancário (CDB) de instituições financeiras de primeira linha”, diz Sousa.
Muitas companhias com vencimento de papéis de dívida no curto prazo, já estão negociando com os bancos a rolagem. ?? o caso da Companhia de Saneamento Básico do Estados de São Paulo (Sabesp) que registrou neste mês a emissão de R$ 220 milhões em debêntures com prazo de cinco anos, a serem emitidas em duas séries de R$ 100 milhões e R$ 120 milhões. A primeira série terá pagamento de juros de DI mais 2,75% ao ano, e a segunda contemplará taxa de 12,87% anuais mais a variação do Índice de Preço ao Consumidor Amplo (IPCA).
Os recursos obtidos serão destinados à liquidação das debêntures com vencimento em março de 2009, que somam R$ 200 milhões, além do pagamento de demais compromissos financeiros. O custo da nova emissão veio acima do alcançado com a primeira operação, realizada em março de 2005, em duas séries com taxas de 101,5% do CDI e 10,8% mais variação do Índice Geral de Preços ao Mercado (IGP-M).
Sousa destaca que o mercado de debêntures está muito restrito e a possibilidade de novas emissões será analisada caso a caso, com prazos menores aos praticados no ano passado. “O prazo das debêntures em 2007 estava em média de cinco a sete anos. Hoje o máximo que está se consegue colocar são papéis com prazos de três anos”, afirma Sousa.
A administradora de concessionárias de rodovias Primav Ecorodovias também estuda alongar a dívida de R$ 430 milhões em notas promissórias, que está para vencer em janeiro de 2009. Segundo o diretor de Relações com Investidores da empresa, Roberto Nakagome, as novas emissões vão depender das condições do mercado. “Hoje é mais fácil fazer uma emissão de curto prazo em notas promissórias e rolar essa dívida posteriormente via debêntures a taxas melhores”, diz.
Nakagome afirma que a companhia também não descarta a captação de recursos com linhas de crédito bancário.
Com o acesso ao mercado de capitais restrito, as empresas devem buscar mais o crédito bancário como alternativa para alongar suas dívidas. “As taxas do financiamento bancário já estão sendo negociadas de acordo com uma nova realidade de preço, porém pode ser, em alguns casos, uma alternativa para a captação de recursos com a retração do mercado de capitais”, diz Sousa.
Ele afirma que, com a escassez de liquidez no mercado de crédito, muitas dessas operações estão sendo estruturadas por meio de crédito sindicalizado.
A diretora-gerente do Bradesco Banco de Investimento (BBI), Denise Pavarina, afirma que as empresas vêm conseguindo rolar suas dívidas seja via financiamento bancário por meio de Cédula de Crédito Bancário (CCB) ou emissão de notas promissórias.
O vice-presidente da Associação Nacional dos Bancos de Investimento (Anbid), Luiz Fernando Resende, o mercado está mais restrito para emissão de papéis mais longos como debêntures, por isso as empresas têm optado por rolar os papéis de dívida via nota promissória, que têm prazo médio de 180 dias. “A expectativa é que assim que as coisas se acomodarem, eles possam renovar essas emissões com prazos mais longos”, destaca Denise.
Algumas empresas já estão se antecipando e estão negociando com os bancos a renovação das emissões. A Alupar anunciou neste mês a emissão de R$ 140 milhões em notas promissórias, com prazo de 90 dias, para pagar o vencimento do primeiro lançamento previsto para novembro deste ano. O custo da nova operação é de 140% do CDI, superior ao da primeira emissão de 118% do CDI. A empresa também aprovou emissão de debêntures de R$ 250 milhões, com garantia do Unibanco e do Itaú BBA.
A Alupar esclarece que a estratégia de emitir debêntures e promissórias já fazia parte do seu plano de negócios antes da recente crise. Além disso, o grupo fechou empréstimos que somam R$ 245 milhões com bancos privados, pouco antes de a turbulência se agravar, também para o alongamento da dívida.
Veículo: Gazeta Mercantil Finanças & Mercados 3/11/08 Estado: SP