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Corte no compulsório alivia e soma R$ 88 bi

A redução nos depósitos compulsórios em até R$ 87,9 bilhões promovida pelo Banco Central no período de 24 de setembro a 13 de outubro é uma medida eficaz para prover caixa de maneira rápida ao sistema financeiro, contribuindo para reduzir o custo de captação das instituições financeiras e o risco de propagação da crise de crédito externa no mercado doméstico. Essa é a visão da equipe de economistas do Credit Suisse, que vê baixa vulnerabilidade no sistema bancário do país na atual crise. “A redução nos compulsórios é prudencial e reduz o risco de descasamento entre a captação e os empréstimos dos bancos”, diz Nilson Teixeira, economista-chefe do Credit Suisse.

Segundo ele, à medida que “a economia for se normalizando” e que a crise de confiança for reduzida há “uma tendência” de que esse caixa extra dos bancos seja direcionado para o crédito. “Em que proporção isso vai se dar é difícil calibrar com precisão”, afirma Teixeira, que aposta que o Comitê de Política Monetária interromperá o ciclo de alta nos juros básicos Selic na reunião dos dias 28 e 29 de outubro, mantendo as taxas em 13,75% ao ano. Segundo ele, embora mais eficaz para prover liquidez no curto prazo, a redução no compulsório tende a ter o mesmo impacto sobre a economia em prazos mais longos do que uma redução nos juros.

Ele lembra que a própria existência de um nível ainda elevado de depósitos compulsórios – R$ 171,5 bilhões após o impacto das reduções possíveis ” deixa espaço para novos cortes caso a crise de liquidez externa se agrave mais. A redução nas emissões externas de títulos de instituições financeiras – que passaram de US$ 8,9 bilhões de janeiro a setembro de 2007 para US$ 3,9 bilhões neste ano, segundo os números do Banco Central – é apenas um dos lados do aperto de liquidez para os bancos, segundo a equipe do Credit Suisse.

O forte crescimento na volatilidade dos mercados resultou em uma elevação expressiva dos depósitos de margem na BM&F, que passaram de R$ 70,7 bilhões em 1º de setembro para R$ 90,7 bilhões em 8 de outubro. O aumento de R$ 20 bilhões sai do caixa dos bancos, principalmente. O aperto externo também impactou as taxas médias pagas pelos bancos nos Certificados de Depósito Bancário (CDBs), que passaram de 109,6% dos juros dos Depósitos Interfinanceiros (DI) em janeiro para 122,7% em agosto. Mas, segundo a equipe do Credit Suisse, essa puxada de custos se deve principalmente ao aumento na emissão desses papéis e dos Recibos de Depósito Bancário (RDBs) pelo sistema financeiro.

O estoque dos CDBs e RDBs passou de R$ 298,1 bilhões em dezembro para R$ 506,2 bilhões em setembro, um aumento de quase 70%. Enquanto isso, a emissão de debêntures de empresa de Leasing, outra forma de captação dos bancos com menos encargos, se manteve em R$ 21,9 bilhões de janeiro a setembro, na comparação com os R$ 21,1 bilhões do período em 2007. Foram as captações no mercado interno que possibilitaram aumento no crédito no Brasil de R$ 935 bilhões em dezembro para R$ 1,1 trilhão em agosto. Essa carteira é fortemente concentrada nos nove maiores bancos por patrimônio líquido (oito de varejo mais BNDES), que detêm 77% do crédito, 76% dos ativos e 89% dos depósitos do sistema bancário. Do crédito total, 34% vêm dos três maiores bancos públicos, 29% dos três maiores privados de controle nacional e 14% dos três maiores privados de controle estrangeiro. “Em um contexto de crise de liquidez, os maiores bancos tendem a apresentar uma maior estabilidade em seus depósitos, maior acesso a empréstimos no exterior e no mercado mobiliário doméstico”, diz relatório do Credit Suisse. Os bancos pequenos e médios nacionais detêm apenas 13% do total de crédito e, para Teixeira, à medida que o BC cria instrumentos para que se compre carteiras dessas instituições menores, “é natural” esperar que no curto prazo a concentração do crédito nas grandes instituições se torne ainda maior. A alavancagem dos bancos brasileiros é baixa e traz tranqüilidade: o índice de capitalização (Basiléia) na média dos 50 maiores bancos é de 15,7%, acima dos 11% exigidos pelo Banco Central brasileiro e dos 8% do mercado externo.  

Veículo: Valor Econômico Finanças 17/10/08 Estado: SP