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Consórcio e leasing não compensam queda do CDC

A fatia financiada da vendas de veículos para pessoas físicas se reduziu no primeiro semestre, ao mesmo tempo em que as taxas de inadimplência subiram. As medidas macroprudenciais adotadas pelo Banco Central fizeram o Crédito Direto ao Consumidor (CDC) desacelerar. Não houve retração, mas queda na taxa de crescimento. O leasing, um substituto histórico do crédito, não chegou a reverter sua trajetória de queda e continuou a minguar. Certa migração do CDC ocorreu para o consórcio de veículos, que aceleraram, mas a compensação foi apenas parcial. Somando os novos negócios fechados nas três frentes, o semestre teve um total de R$ 75,2 bilhões em operações (feita a ressalva de que o consórcio, tecnicamente, não é crédito), contra R$ 68 bilhões nos primeiros seis meses, alta de 10,56%. No mesmo período do ano passado, o crescimento desse bolo havia sido de 29,79%.

A desaceleração mais notável aconteceu no CDC. Pressionada pelas medidas macroprudenciais, a modalidade cresceu 9,85% no semestre, contra astronômicos 81,26% de crescimento em igual período de 2010. No ano passado, entretanto, parte do expressivo crescimento deveu-se a uma migração de clientes vindos do leasing. No primeiro semestre de 2010, enquanto as concessões no CDC de veículos cresceram R$ 20 bilhões, o leasing encolheu R$ 9 bilhões, sugerindo que houve uma transferência.

Neste ano, o consórcio de veículos leves e motos aumentou 48,3% no primeiro semestre, totalizando R$ 23,7 bilhões. Porém, as cotas de consórcio vendidas agora não têm impacto imediato sobre as vendas, já que a contemplação depende de sorteio ou lance para ser antecipada. É por isso que já circula a expectativa de que, com o crédito mais fraco, o setor não atinja a meta de vendas do ano.

A desaceleração do CDC, foi resultado da atuação do Banco Central, que, entre outras medidas, aumentou o requerimento de capital para operações de financiamento de pessoa física no longo prazo, em dezembro. Como consequência, acabaram planos de financiamento de veículos em 72 meses e o valor de entrada subiu. O BC também duplicou o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) no crédito de pessoa física, encarecendo parcelas de financiamentos.

O financiamento mais caro afastou o consumidor de baixa renda das concessionárias. “É essa parcela de menor renda que estamos deixando de crescer”, diz Décio Carbonari, presidente da Associação Nacional das Empresas Financeiras das Montadoras (Anef). Para Carbonari, a perda de capacidade de financiamento deve segurar a venda de veículos, que pode ficar abaixo do esperado pelo setor. “Receio que o objetivo de vendas do ano acabe impactado”.

As medidas macroprudenciais também estão associadas ao aumento da inadimplência no semestre. A taxa pulou de 2,6% em janeiro para 3,8% em junho, subindo sem descanso mês a mês.

Como consequência da desaceleração do crédito, houve acréscimo na fatia de carros vendidos à vista. Segundos dados da Anef, o percentual dos automóveis comprados à vista saiu de 37% no 4º trimestre de 2010, para 40% no 2º trimestre de 2011.

O ingrediente que ajudou o crédito a manter algum fôlego no semestre foram as promoções que algumas financeiras fizeram em conjunto com montadoras – as famosas “taxa zero”. Porém, para o segundo semestre, a capacidade de fazer esse tipo de oferta pode estar ameaçada.

É o caso do Banco Volkswagen. “Em termos de banco, a montadora teve que desenvolver ações coordenadas com taxas promocionais”, diz Marcos Ferreira, gerente de marketing e desenvolvimento de negócios da financeira. Contudo, para o segundo semestre o ritmo de ações promocionais deve cair, o que pode comprometer a meta de vendas da montadora – que subiram 8% no semestre frente expectativa de 10%. “Não sei se chegará no previsto”, diz Ferreira.

Apesar do pessimismo, o Banco Volkswagen teve um desempenho superior ao do mercado, crescendo 20% no semestre, para R$ 2,1 bilhões.

O Banco PSA Finance, que atua nas montadoras Peugeot e Citroen, também acredita que as ofertas tiveram um papel importante. “As promoções com taxas subsidiadas amorteceram o impacto das medidas”, diz Nuno Zigue, diretor geral do banco. Na opinião dele, esse tipo de promoção, com entradas altas e prazos curtos, que o banco já adotava antes das medidas, serve como um bom filtro de clientes.

Porém, mesmo com promoções, o banco sentiu impactos negativos, medidos pela queda no número de propostas de crédito que recebe, estimada entre 5% a 10%.

Veículo: Valor – 24/08/2011