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Com turboélice, ATR dobra vendas em quatro anos e chega a US$ 1,4 bilhão

O construtor franco-italiano de aviões regionais ATR deu a volta por cima. Após uma forte turbulência no início dos anos 2000, devido à concorrência dos jatos, o fabricante de turboélices tornou-se, segundo a companhia, o líder mundial de aeronaves desse tipo com capacidade para acomodar de 50 a 74 pessoas.

Em quatro anos, o faturamento da ATR dobrou, atingindo US$ 1,4 bilhão em 2009, montante recorde, apesar da crise mundial. A empresa anunciou ontem, no salão da aviação de Farnborough, na Inglaterra, 42 encomendas de aviões (72 incluindo opções de compra), o que já representa mais do que a totalidade das vendas firmes em 2009, de 40 aeronaves.
 
“Há três anos não atingíamos esse nível de encomendas na metade do ano. Começamos a ver a retomada do mercado”, diz Filippo Bagnato, presidente-executivo da empresa. A ATR, com sede em Toulouse, no sul da França, é uma joint-venture em partes iguais entre a italiana Alenia Aeronautica (grupo Finmecanica) e o consórcio europeu EADS, holding controladora da Airbus.
 
Há dez anos, existiam cerca de uma dúzia de fabricantes de turboélices. Só restaram dois: a ATR e a rival canadense Bombardier. Os demais faliram ou deixaram de produzir esse tipo de avião.
 
O céu de brigadeiro voltou a aparecer para os fabricantes a partir de 2005, com a alta dos preços do petróleo, já que os turboélices consomem, de 40% a 50%, menos combustível. Além de poluir menos, os preços dos aviões, em torno de US$ 20 milhões, também são mais atrativos do que os dos jatos, mais rápidos. Mas a diferença de tempo de voo é normalmente de apenas dez minutos no caso de distâncias de até 800 quilômetros.
 
Desde sua fundação, em 1981, a ATR já vendeu mais de mil aviões, usados por mais de 150 companhias aéreas em 80 países. Historicamente, os países europeus representam o maior volume da frota comercializada, mas os mercados emergentes do Sudeste Asiático e a Índia são, desde 2005, os grandes clientes da ATR.
 
O Brasil também pode ser incluído na lista de países que se tornaram, recentemente, um dos principais mercados do construtor, disse ao Valor o porta-voz da empresa, David Vargas. Antes mesmo de anunciar, ontem, um contrato com a companhia aérea brasileira Azul estimado em US$ 850 milhões com a venda de 40 aeronaves 72-600, de última geração, sendo 20 ofertas firmes e 20 opções de compra, o Brasil já representava cerca de um terço dos negócios da ATR na América Latina. Dos 106 aviões vendidos às aéreas da região, 31 foram adquiridos pelo Brasil.
 
A maior frota brasileira de aviões ATR é a da companhia Trip, com 22 unidades. Desde 2008, quando a Trip encomendou três novos ATR 72-500, o construtor, que exporta quase a totalidade de sua produção, não vendia aeronaves para companhias aéreas brasileiras. “O Brasil representa um mercado com um forte potencial devido ao aumento do tráfego regional”, diz o porta-voz da empresa.
 
Após o recorde de 113 encomendas em 2007, os volumes diminuíram em razão da crise econômica mundial. Em 2010, a ATR espera entregar pelo menos 50 aviões, mantendo o ritmo dos últimos dois anos. Até junho, o volume de encomendas da empresa totalizava 152 aviões, o que representa mais de dois anos de produção.
 
A cadeia final de montagem dos aparelhos fica em Toulouse. Cada componente vem de um lugar diferente: as asas de Bordeaux, no sudoeste da França, a fuselagem de Nápoles, na Itália, e os motores são canadenses.
 
No salão da Inglaterra, o fabricante também anunciou vendas para companhias do Laos, da Síria, da Suécia e para uma empresa americana de leasing de aviões. A cabine do novo ATR 72-600, modelo adquirido pela Azul e apresentado como um avião “ecológico”, foi realizada pelo designer de automóveis Giugiaro, que desenhou modelos da Ferrari e da Alfa Romeo. E pensar que há apenas cinco anos os turboélices davam sinais de que desapareceriam dos ares.

 

Veículo: Valor 21/07/2010