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Bradesco evita derivativo mas crise afeta resultados

Até mesmo um banco conservador como o Bradesco, que evita os derivativos mais turbinados, mostra em seu balanço o impacto da crise internacional. O banco divulgou ontem o resultado do terceiro trimestre com lucro líquido de R$ 1,910 bilhão no terceiro trimestre, 4,6% inferior ao do segundo trimestre, acumulando R$ 6,015 bilhões em nove meses, com crescimento de 3,4% sobre os R$ 5,817 bilhões dos nove meses de 2007.

Márcio Cypriano, presidente: Quando não entendo uma operação, não faço” 
Excluindo os ganhos extraordinários dos dois anos, o lucro recorrente de nove meses de 2008 é de R$ 5,819 bilhões, sem o ganho obtido pela alienação parcial da Visa Internacional; e o de 2007 é de R$ 5,356 bilhões, sem a venda da Arcelor (R$ 354 bilhões) e parcial da Serasa (R$ 599 bilhões) e Bovespa (R$ 75 milhões).

“Apesar da dimensão da crise internacional estamos otimistas . O sistema bancário é sólido e bem capitalizado. A economia tem bons fundamentos, o nível de emprego está sendo mantido, a renda aumentou e a inflação dá sinais de retorno ao patamar desejado”, afirmou o presidente do Bradesco, Márcio Cypriano.

O Bradesco, no entanto, suspendeu temporariamente o plano de expansão da rede que era abrir mais 200 agências no próximo ano depois de ter aberto 100 em 2007, 168 até agora neste ano e mais 21 até o fim do ano. O banco também evitou traçar projeções para os negócios em 2009 uma vez que o orçamento não foi fechado.

Cypriano prevê um crescimento mais moderado do crédito e dos resultados no quarto trimestre. Apesar disso, sinalizou que o crédito pode crescer 20% em 2009 – previsão acima no mercado – desde que o PIB cresça os 3%.

O principal impacto da crise nos números do Bradesco foi na marcação a mercado de títulos e valores mobiliários, que explicou a redução de R$ 475 milhões do lucro entre o segundo e o terceiro trimestre. Esse total inclui R$ 150 milhões com a marcação a mercado de “credit default swaps” (CDS) referenciados em títulos federais emitidos no exterior; R$ 185 milhões em perdas com ações das reservas da seguradora; e R$ 140 milhões com a marcação a mercado de instrumentos financeiros de proteção a operações prefixadas.

O vice-presidente de relações com investidores, Milton Vargas, afirmou porém que, como os títulos marcados a mercado serão mantidos até o vencimento, essas perdas podem ser recuperadas. Parte das perdas foi compensada com a reversão de provisões feitas para questões judiciais em que o banco se saiu vencedor. Acrescentou ainda que o banco não considera essa questão como estrutural e sim transitória.

O Bradesco ressaltou que não “realiza operações com derivativos exóticos, bem como com operações denominadas target forward ou qualquer outro tipo de operações alavancadas”. Como disse Cypriano, “o comitê de produtos analisou e concluiu que o risco não compensava. Quando não entendo uma operação, não faço”.

Mas faz sim operações que chama de tradicionais com clientes que “desejam administrar suas posições em moedas estrangeiras das variações cambiais”.

Por conta dessas operações, o Bradesco tinha a receber, em 23 de outubro, de 206 clientes, R$ 973 milhões referentes a operações com valor de referência (nocional) de R$ 4,925 bilhões. Dois terços desse total estão nas mãos de 20 clientes. Na mesma data, o banco tinha a pagar a 110 clientes R$ 655 milhões, referentes a operações com valor de referência de R$ 3,917 bilhões. Quase 90% estão nas mãos de 20 clientes.

Vargas preocupou-se em garantir que os valores a receber estão dentro do limite de crédito de cada cliente. O banco avalia que o risco de crédito da instituição não é grande nos montantes que tem a receber, já que são operações feitas com empresas exportadoras, em volumes adequados aos recebíveis das companhias nos seus contratos de venda externa.

Sabendo que corre também um risco indireto, no caso de uma grande empresa sofrer perdas com derivativos estruturados em outros bancos e ficar inadimplente com o Bradesco, Cypriano disse que sua área de corporate fez uma varredura e concluiu que não há motivo de preocupação. “Estamos absolutamente tranqüilos”.

A carteira de crédito do Bradesco cresceu 8,6% no terceiro trimestre e 40,8% em 12 meses, atingindo R$ 197,3 bilhões, incluindo avais e fianças. O segmento que mais cresceu no trimestre é o crédito com pequenas e médias empresas, 10,4% para R$ 55,061 bilhões, acumulando 45,2% em doze meses. Em seguida vieram as operações com grandes empresas, que aumentaram em 9,6% no trimestre e 51,1% em doze meses, para R$ 72,205 bilhões.

As operações com pessoas físicas somavam, ao final de setembro, R$ 69,984 bilhões, com crescimento de 6,2% no trimestre e 28,7% em doze meses. Entre as linhas mais importantes do segmento, houve uma retração no CDC de veículos, de 1,1% no terceiro trimestre, para R$ 20,789 bilhões; e no consignado, de 0,4%, para R$ 6,623 bilhões. As duas linhas representam dois terços do volume de financiamento ao consumo feito pelo banco. No caso do financiamento de veículos, o motivo foi uma migração para as operações de leasing.

Os resultados do Bradesco vieram abaixo do consenso do mercado, segundo relatório da corretora Ativa, com queda da margem financeira em comparação com o segundo trimestre, do resultado bruto da intermediação financeira, lucro líquido e rentabilidade. A Ativa notou quer se a reversão de provisões feita para compensar a redução dos ganhos na margem financeira no resultado de “não juros” for considerado evento não recorrente, o lucro líquido diminuiria em R$ 186 milhões.

As ações preferenciais do Bradesco caíram 4,32% a R$ 19,14, ontem, dia em que a Bovespa caiu 6,5%.

Veículo: Valor Econômico Índice Geral 28/10/08 Estado: SP