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Bradesco amplia previsão de expansão do crédito

Após mais um semestre de expansão dos negócios, o Bradesco revisou para cima as perspectivas de expansão do crédito. O banco esperava que o crédito crescesse de 21% a 25% neste ano; agora, as projeções foram elevadas para 24% a 29%. O aumento será puxado principalmente pelas operações com empresas, que devem crescer de 24% a 29% e não mais os 20% a 23% anteriormente esperados. Já a expectativa de expansão dos negócios com pessoas físicas ficou em 24% a 29%.

Os planos de investimento e a expansão dos negócios exigem recursos que as empresas estão buscando essencialmente no crédito dada a retração do mercado de capitais. Já o aumento da renda e do emprego sustenta a demanda de crédito por parte das pessoas físicas.

As explicações foram dadas pelo presidente do Bradesco, Márcio Cypriano, ontem, ao anunciar os resultados do primeiro semestre e a instalação até o final do ano de três corretoras no exterior, em Tóquio, Hong Kong e Dubai, com o investimento de US$ 50 milhões, para distribuir títulos de renda fixa e renda variável.

O Bradesco publicou lucro líquido de R$ 2,002 bilhões no segundo trimestre, acumulando R$ 4,105 bilhões no primeiro semestre. Em relação ao resultado de R$ 2,103 bilhões obtido no primeiro trimestre deste ano, o lucro caiu 4,8%; e em relação aos R$ 4,007 bilhões do primeiro semestre de 2007, subiu 2,4%.

Mas, nos meses anteriores, os resultados foram muito afetados por vendas de participações como a da Visa no primeiro trimestre deste ano e da Arcelor e Serasa em 2007. Excluindo esses ganhos extraordinários, o lucro líquido do segundo trimestre continua em R$ 2,002 bilhões, 5% acima dos R$ 1,907 bilhão do primeiro trimestre. O acumulado no semestre ficou em R$ 3,909 bilhões, 11,5% acima dos R$ 3,506 bilhões do primeiro semestre de 2007.

De toda forma, as ações preferenciais do Bradesco caíram 5,69% ontem para R$ 30,47, dia em que a Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) teve queda de 3,51%. O retorno ajustado do Bradesco sobre o patrimônio líquido médio foi de 27,2% no primeiro semestre em comparação com 31,5% em igual período de 2007.

Segundo Cypriano, a elevação da taxa Selic não arrefeceu a demanda por crédito até agora. Desde abril, a Selic já subiu 1,75 ponto percentual para os atuais 13% ao ano, O Bradesco trabalha com a expectativa que a taxa vai chegar a 14,75% até o final do ano e fechará 2009 em 13,75%, ainda acima dos níveis atuais.

O banqueiro não espera que o governo anuncie medidas adicionais de controle do crédito, além da elevação dos juros. Desde o início do ano, o Banco Central (BC) adotou diversas normas para conter o crédito, sem muito efeito aparente. Inicialmente, o IOF das operações de crédito foi aumentado de 1,5% para 3,38%. Foi criado um novo compulsório que inviabilizou as operações interbancárias com empresas de leasing, e elevou os custos de captação dos bancos porque deve retirar do mercado R$ 40 bilhões até o próximo ano, Além disso, foram impostas restrições ao consignado.

De acordo com o balanço do primeiro semestre ontem divulgado, a carteira de crédito do Bradesco aumentou 38,8% nos doze meses terminados em junho, atingindo R$ 181,602 bilhões, incluindo as operações com avais e fianças, valores a receber com cartão de crédito (compras parcelas e a vista) e cessão de crédito. Excluindo essas operações, a carteira do Bradesco aumentou 37,2% para R$ 108,191 bilhões. Os números estão em linha com o desempenho médio do sistema financeiro, que aumentou o crédito com recursos livres em 37% nos doze meses terminados em junho.

O Bradesco bateu o mercado nas operações com pessoas jurídicas, que cresceram 42,9% nos doze meses terminados em junho, atingindo R$ 115,73 bilhões, em comparação com a média de 41,3% do sistema financeiro. O desempenho foi determinado pela expansão de 47,2% das operações com pequenas e médias empresas, que atingiram R$ 49,866 bilhões. A carteira de grandes empresas cresceu 39,8% para R$ 65,864 bilhões. Dois destaques foram as operações de capital de giro e de leasing que dobraram para R$ 19,136 bilhões e R$ 7,3 bilhões respectivamente.

A carteira de pessoa física, com crescimento de 32,2% nos doze meses terminados em junho, para R$ 65,872 bilhões, acompanhou a média do sistema financeiro que exibiu expansão de 32,4% em igual espaço de tempo. Nesse segmento, o leasing é novamente destaque, com salto de 441,3% entre junho de 2007 e igual mês deste ano para R$ 7,67 bilhões. Conforme explicou o vice-presidente executivo Milton Vargas, as novas regras de IOF tornaram as operações de leasing, que são isentas, bastante competitivas. O leasing impulsiona especialmente o financiamento de veículos.

Já o consignado, mesmo tendo crescido 48,1% nos doze meses terminados em junho, para R$ 6,649 bilhões, deve desacelerar ao longo do segundo semestre: o Bradesco esperava que essa carteira dobrasse de tamanho neste ano, mas trocou essa previsão por um aumento de 35% a 45%. Os motivos básicos foram dois: o limite do juro do consignado, apesar da elevação da Selic, e o estímulo às operações com cartões, explicou Vargas.

A expansão do crédito reduziu o índice de capitalização do Bradesco de 16,1% em junho de 2007 para 12,9% em junho passado. Mas, com as novas regras de capital mínimo, chamadas de Basiléia 2, o índice sobe a 16,7%.

Mesmo com o aumento do crédito, o Bradesco notou que a inadimplência, medida pelas operações com mais de 90 dias de atraso, ficou em 3,5% da carteira total pelo terceiro trimestre consecutivo. Ainda assim, as provisões superam em R$ 1,2 bilhão o mínimo requerido pelo BC.

O maior volume de negócios com crédito compensou a queda dos spreads e manteve as margens do banco. A participação do crédito na margem do banco passou de 65,8% 69% entre o primeiro semestre de 2007 e igual período deste ano.

Além disso, o crédito contribuiu com 25% do lucro líquido do Bradesco no primeiro semestre deste ano, o mesmo percentual do primeiro semestre de 2007. A receita com serviços reduziu sua fatia de 29% para 25% no mesmo período em vista das novas regras como a extinção da tarifa de abertura de crédito (TAC). A tesouraria também teve sua fatia reduzida de 9% para 6%. Mas a fatia dos negócios com seguros saltou de 31% para 39%, contribuindo com R$ 1,469 bilhão do resultado.

Esta reportagem também foi veiculada nos seguintes veículos: DCI, Gazeta Mercantil e O Globo.

 

Veículo: Valor Econômico 1° Caderno 5/8/08 Estado: SP