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BC vai cortar remuneração de banco que não comprar carteira

Preocupado com a persistência dos problemas de falta de liquidez, o Banco Central (BC) resolveu carregar mais na mão para estimular as operações de compra de carteira de crédito e outros ativos de bancos pequenos e médios por instituições de grande porte. Em circular publicada ontem, o BC mudou a forma de recolhimento do compulsório sobre depósitos a prazo – como os CDBs -, para penalizar os bancos que mantiverem seus recursos parados no BC, em vez de fazer o dinheiro circular.

Hoje, 15% dos depósitos a prazo captados pelos bancos são recolhidos compulsoriamente junto ao BC, mas a regra determina que isso seja feito por meio de títulos públicos federais, que rendem a taxa básica de juros, hoje em 13,75% ao ano. Com a medida, a partir do dia 14 de novembro os bancos poderão recolher junto ao BC apenas 30% desse compulsório em títulos públicos.

Os outros 70% terão de ser recolhidos em espécie, sem qualquer remuneração, caso os bancos não se utilizem da prerrogativa, concedida ainda na primeira metade deste mês, de utilizar o dinheiro para adquirir carteiras de crédito de outras instituições de pequeno e médio e porte (com patrimônio de até R$ 7 bilhões). Com isso, o BC pretende fazer circular cerca de R$ 28 bilhões.

Os grandes bancos também estão autorizados a comprar com os recursos outros ativos de instituições de menor porte, como direitos creditórios de leasing, títulos de renda fixa emitidos por entidades privadas não financeiras integrantes de fundos de investimentos, e depósitos interfinanceiros (DI) de instituições financeiras que não sejam do mesmo conglomerado.

Em audiência na Comissão de Assuntos Econômicos do Senado, o presidente do BC, Henrique Meirelles, adiantou que pretendia agir para fazer o dinheiro chegar aos bancos de pequeno e médio portes. “Já tomamos medidas nesse sentido (aumentar a liquidez), entre elas a de liberar o compulsório para ser usado apenas na compra de carteiras de crédito dos pequenos e médios. Mas isso não está ocorrendo na medida esperada. E, assim, estudamos medidas adicionais para fazer com que se assegure que esses recursos cheguem na ponta.”

O economista-chefe do banco BES Investimento, Jankiel Santos, elogiou a medida do BC e disse que ela significa um “basta”. “Esta medida vai acelerar a forma como os recursos chegam às instituições de pequeno e médio porte.” Ele calcula que, se os bancos não utilizarem o mecanismo eles perderão R$ 15 milhões por dia.

O economista do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), Júlio Gomes de Almeida, elogiou a medida, mas lamentou que se limite à compra de carteiras de crédito e não inclua financiamentos para empresas e consumidores.

 

Veículo: O Estado de S. Paulo Editorias 31/10/08 Estado: SP