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SÃO PAULO – A emissão de títulos semelhantes a debêntures pelos bancos brasileiros deve ocorrer ainda no começo do ano que vem e servirá principalmente para aumentar as carteiras de crédito de longo prazo, com vencimentos acima de dez anos. A afirmação foi feita pelo presidente da Associação Brasileira de Bancos (ABBC), Renato Oliva, e é partilhada por especialistas do mercado.
“O cenário hoje depois da crise é de crescimento sustentável, principalmente para a economia brasileira, e isso provoca mais confiança e pensamento de longo prazo. Com isso em mente, devem ser criadas operações de crédito que poderão ser quitadas somente daqui a 10 anos”, afirma.
Segundo Cláudio Lohmann, analista da Korus Investimentos, os grandes bancos já sinalizaram interesse no novo instrumento, mas os papéis não devem apresentar vencimentos tão longos assim. “Provavelmente estes papéis terão vencimento médio de cinco anos, o que aumentará muito o volume de crédito disponível nos bancos”.
O economista-chefe da Planning Consultoria, Cláudio Gonçalves, diz entender que há uma forte expectativa do setor bancário para aprovação da nova ferramenta, principalmente por conta do otimismo sobre o crescimento da economia brasileira no próximo ano. “Os bancos devem focar o dinheiro no crédito, cuja procura vai aumentar por conta do esperado crescimento em 2010”.
Para Oliva, a medida também deve dar injeção de ânimo a empresários que costumam tomar empréstimo para capital de giro com vencimentos a curto prazo, estimulando ainda mais a economia. Para os bancos, será mais um mercado para explorar.
Primeiro porque, segundo ele, as instituições bancárias listadas na Bovespa poderão lançar estes papéis no mercado de capitais brasileiro, hoje bem visto pelos estrangeiros. Outro ponto crucial seria a flexibilidade para moldar esses papéis, de acordo com o tipo de captação que o banco pretende fazer. “Você poderá modelá-los com carência, sem carência, com pagamentos mensais, semestrais e até anuais”, afirma.
Mais uma vantagem, segundo o executivo, seria a criação de uma nova alternativa para as instituições, já que as captações no exterior envolvem alto custo operacional. “Os bancos terão mais uma opção, mas isso vai depender de como será desenhado o papel”. Recentemente Banco do Brasil e Bradesco realizaram, respectivamente, captações externas de US$ 1 5 bilhão e US$ 750 milhões, enquanto o Santander captou mais de R$14 bilhões em uma oferta inicial de ações (IPO na sigla em inglês). Outro banco que captou no exterior recentemente foi o PanAmericano, com US$ 250 milhões.
Para Gonçalves, essa dificuldade ocorrida em um momento em que o mercado de crédito externo “esteve fechado” provocou uma mobilização do governo, mas que talvez não seja necessária no futuro. “O governo federal até criou uma série de mecanismos para permitir que fundos de previdência pudessem adquirir maior participação em títulos de renda fixa e renda variável para melhorar esse cenário”, lembrou.
A redução do risco de descasamento de ativos e passivos nas operações de crédito, segundo Oliva, será mais um motivo de comemoração para os bancos. Isso acabaria com os problemas de caixa trazidos por uma captação de prazos mais curtos que os empréstimos concedidos pelas instituições financeiras.
“Acaba essa relação porque você já captou o dinheiro, e isso reduz os riscos de operação dos bancos.” Isso inclusive deve reduzir as interferências e preocupação do Banco Central nas operações de crédito das instituições, segundo Oliva.
No entanto, os especialistas do mercado ainda têm muitas dúvidas de como exatamente os bancos deverão se aproveitar do novo instrumento, apesar do otimismo. A principal delas é sobre o recolhimento do depósito compulsório. No início do ano passado, o Banco Central passou a aplicar sobre as debêntures de empresas de leasing a mesma alíquota dos depósitos a prazo – hoje em 13, 5%. “O compulsório deixaria a debênture mais cara. Ela precisa ser compatível com uma captação no exterior e assim trazer menos custo ao sistema financeiro” defende Oliva.
Veículo: DCI