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Bancos de montadoras perdem mercado

Os bancos ligados a montadoras perderam, em 2010, a fatia de mercado conquistada durante a crise internacional. No ano passado, enquanto as instituições financeiras de varejo freavam as concessões de crédito em meio às turbulências, os bancos de montadoras aproveitaram a brecha e financiaram ao menos metade dos veículos novos vendidos no país. Tradicionalmente, eles detém uma participação de mercado de 40%. Passado o auge da crise, é justamente para esse patamar de fatia que retornaram no primeiro semestre deste ano.

A estimativa é de Décio Carbonari de Almeida, presidente da Associação Nacional das Empresas Financeiras das Montadoras (Anef). “A tendência natural era de que perdêssemos um pouco de espaço quando os bancos de varejo voltassem a atuar de forma regular”, observa. O saldo das carteiras de leasing e Crédito Direto ao Consumidor (CDC) para aquisição de veículos por pessoas físicas era de R$ 166,6 bilhões, em maio, último dado oficial.

Mas essa redução de participação de mercado não significa que o ritmo de negócios tenha diminuído. Pelo contrário, os bancos ligados a montadoras têm acompanhado os sucessivos recordes de vendas de veículos no país. As projeções apontam para um crescimento de 9% nas vendas de carros novos em 2010 ante 2009, que já representa uma base de comparação elevada. O volume de financiamentos deve subir, neste ano, entre 10% e 15%.

Embora os cálculos da Anef não incluam os créditos concedidos a pessoas jurídicas, boa parte do crescimento do setor, segundo Almeida, está sendo puxada pelos veículos comerciais, especialmente caminhões – cuja produção aumentou 53% na primeira metade do ano. “A maior demanda por transporte de cargas e passageiros tem acelerado os investimentos na modernização de frotas”, diz.

No banco Mercedes-Benz, em que o segmento de caminhões respondeu por 60% dos novos financiamentos feitos no primeiro semestre e o de ônibus, por 17%, o desempenho foi comemorado. O total de desembolsos no período somou R$ 1,62 bilhão, volume 12% superior ao resultado apurado entre janeiro e junho de 2009. A demanda aquecida está atrelada não só ao crescimento da economia como também aos incentivos oferecidos pelo governo. A linha especial Finame (Financiamento de Máquinas e Equipamentos) para a compra de caminhões e ônibus do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) foi responsável por 88% dos novos negócios feitos pelo banco Mercedes-Benz no ano, até junho.

A prorrogação até 31 de dezembro do subsídio, que está no âmbito do Programa de Sustentação do Investimento (PSI), ajudará o banco Mercedes-Benz a atingir a meta de crescimento de liberação de recursos para novas aquisições, em 2010, calculada entre 13% e 20% na comparação com 2009. “Ainda que tenha sido promovido um aumento de 1 ponto percentual na taxa de juro [para 8% ao ano], o BNDES PSI vai nos auxiliar a alcançar o objetivo traçado para 2010”, afirma Angel Martínez, diretor comercial do banco.

O Finame ajudou também a impulsionar os negócios do banco Volkswagen. Dos R$ 5,3 bilhões liberados ao longo do primeiro semestre, R$ 1,4 bilhão foi via Finame – expansão de 63% em relação ao mesmo período de 2009. Os incentivos dados pelo governo beneficiaram ainda o segmento de automóveis. Segundo Ricardo Auricchio, gerente de administração de vendas do Banco Volkswagen, a participação de mercado da instituição no total de financiamentos para automóveis subiu de 43%, em dezembro, para 45%, em junho.

Muitos profissionais do setor chamam atenção para um provável movimento de antecipação de compras, ocorrido até o fim de março, quando ainda estava em vigor o Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) reduzido para carros novos. “A venda de veículos bateu recorde histórico em março”, lembra Auricchio. Mesmo assim, ele acredita que a velocidade de concessões de novos empréstimos tende a aumentar. “Historicamente, o segundo semestre é melhor para a indústria automotiva do que o primeiro.” Algumas montadoras já trabalham no lançamento de modelos 2011, abrindo espaço para a queima de estoque dos modelos 2010.

Nem mesmo a elevação da Selic deve atrapalhar as previsões de crescimento. “Embora a taxa para o consumidor tenha subido um pouco entre abril e maio, o custo ainda é inferior ao de anos anteriores”, observa Luiz Montenegro, presidente do Banco Toyota. A taxa média de juro cobrada nas operações para pessoas físicas encerrou maio em 1,43% ao mês, superior à média de 1,40%, em abril, mas inferior ao 1,55% de abril de 2009.

Num cenário de abundância de crédito e, portanto, de competição acirrada, os bancos ligados a montadoras também lançam mão de um artifício que costuma manter elevada a disposição do consumidor para adquirir carros zero quilômetro: os subsídios concedidos pela fábrica. “Ainda que isso reduza os spreads, a oferta de condições especiais nos auxilia a cumprir a principal função de um banco de montadora, que é escoar a produção”, arremata Auricchio, do Banco Volkswagen.

Veículo: Valor 22/07/2010