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Bancos de montadoras crescem, mas prevêem desaceleração

Para aproveitar o bom momento do crédito no Brasil e conseguir crescimento na casa de dois dígitos, os bancos de montadoras mudaram de estratégia e passaram a privilegiar as linhas de leasing e de financiamento de máquinas e equipamentos (Finame), onde não há incidência de imposto sobre operações financeiras (IOF), como na linha de crédito direto ao consumidor (CDC). Apesar dos resultados positivos atuais, as instituições esperam que os seis últimos meses do ano sejam mais apertados.

A instituição da Chevrolet, o banco GMAC, por exemplo, encerrou o primeiro semestre de 2008 com um crescimento de 52% em carteira, em relação a 2007, passando de R$ 4 bilhões para R$ 6,1 bilhões. Segundo o diretor financeiro da entidade, Sérgio Diniz, o mercado já dá sinais de redução. “Não há um fator preponderante, mas tem o peso da alta das taxas de juros. Além disso, em geral os bancos estão mais seletivos na hora de conceder o crédito.” Ele acredita que é difícil prever o crescimento do setor, que deverá depender da expansão da indústria automotiva. “Acreditamos em um desaquecimento até o fim do ano.” O executivo diz que neste ano, o leasing ocupou o lugar de principal linha do banco, com 70% dos novos contratos, posto que pertencia ao CDC no ano passado. “Até o fim de 2007, operações de leasing eram irrisórias, mas com a cobrança de IOF no CDC desde o início de 2008, passou a ser a principal”, explica.

O banco da Mercedes-Benz, que trabalha com veículos comerciais, relatou um crescimento de 36%, nos sete primeiros meses do ano, em veículos financiados via Finame, em relação ao mesmo período de 2007, de R$ 654,2 milhões a R$ 891,8 milhões.

Segundo o banco, essa já é a principal linha oferecida aos clientes: 64% dos negócios estão sendo fechados nesse produto, 31% no leasing e 5% no CDC (crédito direto ao consumidor). A instituição financeira apurou crescimento de 17% na carteira de crédito, de R$ 1,2 bilhão no primeiro semestre de 2007, para R$ 1,4 bilhão até julho de 2008.

A exceção foi o banco da fabricante de máquinas e equipamentos agrícolas Case New Holland (CNH). A entidade obteve um crescimento de 7% no semestre em relação a 2007, com R$ 4,5 bilhões em carteira, contra cerca de R$ 4,2 no início do ano anterior. Segundo eles, o portfólio deve encerrar o ano estável. Dos três bancos ouvidos, o CNH é o único que enfrenta problemas mais graves com a inadimplência do setor. Isso porque a entidade enfrenta o quarto ano consecutivo de renegociação de dívidas no setor agrícola. Além disso, afirma o banco, a alta da taxa de juros sempre provoca retração na demanda por crédito. Em contrapartida, para manter a estabilidade de carteira almejada, a entidade financeira aguarda o fim da moratória agrícola para outubro deste ano.

Apesar de manter o Finame como principal linha, com 77% dos contratos, graças ao tipo de produto que financia, o banco já percebe certa migração de clientes para o leasing, segundo eles por apresentar uma mecânica mais simples e atrativa, com taxas competitivas, mas não acredita que essa venha a se tornar a principal fonte de crédito.

Segundo algumas instituições financeiras, caso o juro para veículos fique próximo de 2% ao mês com a alta da Selic, a taxa passa a tornar o produto menos atraente, o que também contribui para o desaquecimento do setor.

Montadoras

Assim como no caso das entidades financeiras, a diretoria da GM do Brasil acredita que os dois principais fatores na desaceleração das vendas do setor automotivo serão a alta de juros e a maior seletividade dos bancos na concessão de crédito. Apesar da redução no ritmo de crescimento, a companhia garante que a capacidade de produção atual da indústria é suficiente para atender a demanda, sem fila de espera nas concessionárias.

Outro ponto é a relação entre oferta e demanda com os fornecedores, que o vice-presidente da montadora no Brasil, José Carlos Pinheiro Neto, diz estar equilibrada. “Não há falta de matéria-prima ou de peças no Brasil, mas uma discussão sobre preços”, explica o executivo. A empresa deve importar neste ano pneus da China motivada não só por preços, mas também por uma situação cambial favorável.

A briga pela liderança no mercado nacional entre Volkswagen, Fiat e GM não incomoda Pinheiro Neto. Para ele, o foco atual não é ser líder, mas sim “ganhar dinheiro”. A expectativa da companhia é de que as três maiores montadoras detenham participações acima de 20% no País.

Segundo levantamento da Associação Nacional das empresas Financeiras das Montadoras (Anef), o saldo da carteira de crédito para aquisição de veículos no mês de julho cresceu 43,8% em comparação ao mesmo período do ano passado, saltando de R$ 92,5 bilhões para R$ 133 bilhões. Este montante passou a representar 4,5% do Produto Interno Bruto nacional (PIB) contra 3,6% registrado em junho de 2007.

De acordo com a entidade, mesmo com a expectativa de um segundo semestre com crescimento menor, espera-se que o setor atinja as metas de crescimento.

As taxas médias de juros da Anef no mês de julho ficaram abaixo do praticado pelo mercado, em 23,14% ao ano, contra a média de 33,46% ao ano. A inadimplência acima de 90 dias em julho também apresentou leve aumento frente ao mês imediatamente anterior, indo de 3,56% para 3,68% sobre a carteira. Em junho de 2007, a inadimplência foi de 3,22% sobre a carteira. Segundo a entidade, apesar da leve elevação, o índice segue em níveis aceitáveis.

 

Veículo: DCI Capa 9/9/08 Estado: SP