Com o cenário menos favorável para captações no exterior e a redução dos custos das emissões no mercado de capitais brasileiro, os bancos das montadoras de veículos têm lançado fundos de recebíveis de crédito como alternativa para captar recursos e financiar as vendas nas concessionárias.
O Banco Volkswagen acaba de encerrar a oferta pública do fundo Driver One, que totalizou R$ 1bilhão. O banco que financia as operações da General Motors, o GMAC, também está com uma oferta com previsão de captação de R$ 250 milhões de um Fundo de Investimento em Direitos Creditórios (FIDC), que tem como lastro os contratos de financiamento concedidos pelo banco às concessionárias para a aquisição dos automóveis que são vendidos aos clientes finais. O PSA Finance, que atende Citroën e Peugeot, também planeja novas emissões no mercado local.
A maior escassez de linhas de crédito no exterior, em função da crise na Europa, aumentou o interesse de bancos de montadoras pela oferta de fundos de recebíveis. O Banco Votorantim, por exemplo, está estruturando uma operação de FIDC para um banco de montadora, que deve sair no segundo semestre. “Antes era comum a matriz das montadoras tomarem empréstimos no exterior, que contavam com taxa de juros mais baixa, e repassarem para as subsidiárias no Brasil. Hoje elas estão buscando mais funding no mercado local”, diz Alberto Kiraly, responsável pela área de investment banking do Banco Votorantim. A oferta do Banco Volkswagen, por exemplo, faz parte de um programa global da montadora de diversificação das fontes de “funding” entre operações de securitização, depósitos bancários e emissões no mercado de capitais, diz Rafael Teixeira, diretor financeiro da instituição no Brasil. O programa mundial lançado em 2008, logo após a quebra do americano Lehman Brothers, visa reduzir a dependência das subsidiárias em relação à matriz para financiamentos das vendas de veículos. A previsão é de que a diversificação da composição de capital desejada seja atingida até 2018. Segundo Teixeira, no caso do Brasil, isso será feito por meio da oferta de letras financeiras e de fundos de recebíveis. O banco chegou a captar por meio da emissão de notas comerciais (“medium-term notes”) pela subsidiária na Holanda, mas hoje o apelo dessa estrutura é menor. “Queremos explorar mais as opções de captação no mercado local e não depender tanto do suporte da matriz”, destaca Teixeira, do Banco Volkswagen. De acordo com o executivo, a carteira de crédito do banco está em R$ 21 bilhões. Excluindo os repasses da linha Finame do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e a parcela de patrimônio próprio, a necessidade de financiamento é de R$ 10 bilhões, sendo que R$ 3 bilhões podem vir do lançamento de FIDCs. “Já emitimos R$ 1 bilhão e ainda temos mais R$ 2 bilhões que podem ser captados via esse instrumento.” O FIDC do Banco Volkswagen tem prazo de cinco anos e a remuneração das cotas seniores, aquelas efetivamente distribuídas ao mercado, saiu a CDI mais um prêmio de 1,25% ao ano. Já as cotas mezanino, uma emissão intermediária entre a sênior e a subordinada (que fica com os cedentes dos créditos), saíram a CDI mais 2,05%. A demanda superou em 2,2 vezes a oferta. Já o FIDC do GMAC, em análise na Comissão de Valores Mobiliários (CVM) prevê uma remuneração de DI mais taxa de 2,10% para as cotas seniores da terceira série e de DI mais 2,20% paras as cotas seniores da quarta série. O banco já havia distribuído um FIDC em novembro de 2009, que conta com patrimônio de R$ 70 milhões. Para as instituições, a vantagem é que os fundos de recebíveis contam com prazos maiores que os Certificados de Depósito Bancário (CDB) ou as letras financeiras, proporcionando um casamento melhor com os financiamentos de veículos, mais longos, com prazo médio de 1 ano e 4 meses segundo dados do Banco Central. Os bancos de montadoras também têm acessado outros instrumentos de captação no mercado local como as letras financeiras. O Banco Volkswagen emitiu R$ 300 milhões em letras, em junho, a uma taxa de 107% do CDI. O banco PSA Finance emitiu R$ 200 milhões em letras financeiras neste ano, e estuda outras alternativas de captação no mercado local. O banco chegou a lançar um FIDC fechado em 2010, que teve como único cotista o Santander, caracterizada como uma venda de carteira para o banco. Com os grandes bancos de varejo pisando no freio do crédito de veículos neste ano, diante do aumento da inadimplência, os bancos das montadoras tiveram que suprir a demanda por crédito junto aos distribuidores. Antes, do total da carteira de veículos Citroën e Peugeot cerca de 30% eram financiados pelo banco da montadora. Hoje essa participação subiu para 39%, diz Ngan Wum, tesoureiro do banco PSA Finance. A carteira de veículos do banco soma R$ 3,4 bilhões entre varejo e atacado. No caso do PSA Finance, o funding para as operações de varejo vem principalmente dos recursos de depósito compulsório que deixam de ser recolhido pelos grandes bancos. Desde fevereiro, o Banco Central deixou de remunerar parte do dinheiro depositado no BC para incentivar a compra de carteiras de crédito de instituições de pequeno e médio portes. Já as vendas no atacado são financiadas com recursos de linhas interbancárias, que registram um aumento do custo em relação a 2011, passando, em média, de 107% do CDI para 115% do CDI.
Veículo: Valor Econômico
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