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Nos últimos dias, com a ampliação do aperto generalizado do crédito no Brasil, as pressões para o Banco Central baixar o compulsório têm aumentado significativamente e a medida até faz parte do elenco de alternativas que vêm sendo estudadas pelo governo para injetar mais liquidez no mercado.
O BC está monitorando com lupa o comportamento do crédito no sistema financeiro e não descarta a possibilidade de reduzir o compulsório, mas ainda quer esperar mais um pouco para não tomar uma medida tão importante como essa de forma precipitada.
O argumento é que o BC não pode fazer uma mudança de caráter estrutural no sistema financeiro, que não pode ser revista num prazo curto, tendo como fundamento o comportamento do mercado em apenas uma semana.
Se fosse agir com base nos últimos dias, o BC certamente teria baixado o compulsório. As medidas tomadas recentemente de adiamento da aplicação do compulsório sobre o leasing e mesmo a venda de dólar das reservas não foram suficientes para atender as necessidades de liquidez do mercado.
A redução do compulsório também iria contrariar a política monetária austera adotada pelo Banco Central nos últimos meses. Todas as indicações são que o BC não vai promover uma mudança de rota, ainda que, na próxima reunião do Copom, aumente em meio ponto a taxa básica de juros, em vez do 0,75 das últimas reuniões.
Apesar da desaceleração da inflação, o que pesa agora é a desvalorização do câmbio, que pode ter um impacto sobre a inflação nos próximos meses.
Na verdade, a expectativa do BC é que, caso seja aprovado, o pacote do Tesouro americano de socorro das instituições financeiras promova um alívio no mercado e possibilite o estabelecimento das linhas de financiamento externo para o Brasil. Na semana passada, com a perspectiva de aprovação do pacote, depois frustrada, as linhas quase se normalizaram.
O fato, no entanto, é que o desenho do sistema financeiro mudou bastante com a crise e o restabelecimento das linhas externas pode demorar mais do que se imagina. Instituições financeiras que tinham grandes linhas de financiamento com o Brasil, como o bancos Wachovia, comprado pelo Citigroup, e o Fortis, que foi nacionalizado, mudaram de mãos e não se sabe como eles irão atuar.
O Banco Central está consciente disso, mas prefere agir com calma, sem ansiedade. O Brasil é, até agora, um dos países que menos sofreram com a crise. A Irlanda praticamente estatizou todo o seu sistema financeiro, Hong Kong e França estão lançando um amplo pacote de resgate do setor financeiro, o Reino Unido já vem há algum tempo socorrendo o setor e o Banco Central Europeu também adotou um pacote de socorro dos bancos, numa ação conjunta com o Fed (o Federal Reserve, o BC americano).
O Brasil não passou por nada disso e foi um dos últimos países a enfrentar o problema de restrição ao crédito. A expectativa do Banco Central é que tão logo a situação se normalize o Brasil também seja um dos primeiros a ter as linhas de crédito externas restabelecidas.
Veículo: Folha de S. Paulo Dinheiro 20/10/08 Estado: SP