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As dificuldades para conter a demanda

O governo se depara com uma situação paradoxal: por ter estimulado a demanda através de políticas de expansão do crédito, assistenciais, distributivas, de aumento do número de funcionários mais bem pagos, etc., encontra-se agora em dificuldade para domá-la – principal objetivo do Banco Central para conter uma inflação que, tendo se originado em fatores externos, está hoje se desdobrando em fatores domésticos.

Não é segredo para ninguém que o ministro da Fazenda é totalmente contrário à política monetária conduzida pelo Banco Central, ficando assim o presidente da República como árbitro nessa pendência. A equipe econômica, para exibir seu empenho no combate às pressões inflacionárias, estuda estender às operações de leasing a incidência do IOF, que até agora não as grava, pois não são consideradas operações de crédito e por isso tiveram uma expansão muito grande, especialmente no caso de aquisição de veículos.

Seguramente, o Ministério da Fazenda se interessa pelo IOF por ser um meio de aumentar os recursos do Tesouro e com isso elevar os gastos.

No entanto, não se pode esperar uma redução dessas operações, enquanto se mantenham ou até se expandam os seus prazos. No jornal Valor, Alexandre Marinis, da agência de notícias Bloomberg, escreveu um artigo arrasador sobre os financiamentos no Brasil, mostrando que os consumidores brasileiros desprezam os custos dos juros, enquanto o governo pressiona por mais crédito.

Na realidade, enquanto não se regulamentarem os prazos dos financiamentos, não se conseguirá reduzir de modo sensível o impulso da demanda. A do governo está crescendo, e crescerá ainda mais com o aumento do IOF.

Existe, porém, um fator que nesse momento não se leva suficientemente em consideração: a demanda crescente estimula os investimentos. Se tais investimentos fossem para melhorar a infra-estrutura no curto prazo, eles teriam rapidamente um efeito benéfico, reduzindo os custos de produção e favorecendo as exportações.

Mas outros investimentos, em tese desejáveis, têm o inconveniente de aumentar a demanda de bens e serviços num primeiro momento, sem, no entanto, expandir de imediato a oferta.

O único meio de neutralizar esse efeito é procurar conter, numa primeira fase, a taxa de crescimento da demanda, tanto do setor privado quanto – e especialmente – a do governo.

Veículo: O Estado de S. Paulo Conteúdo livre 16/8/08 Estado: SP