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SÃO PAULO – Os bancos preveem que a pressão do governo para que as instituições financeiras diminuam os spreads pode ser infrutífera caso se confirme a expectativa de analistas em relação à elevação da inadimplência para este ano. Spread é a diferença entre o que o banco paga para ter recursos e o que ele cobra pelo dinheiro.
O calote, segundo os bancos, respondeu por 37,35% do cálculo do lucro bruto dos bancos no crédito e deve encerrar 2008 com representatividade na faixa dos 40%. Essa participação tende a aumentar nos próximos meses, quando é esperado um aumento do número de parcelas em atrasos, garante o setor bancário.
Segundo o economista-chefe da Federação Brasileira dos Bancos (Febraban), Rubens Sardenberg, a elevação dos spreads se deve à antecipação desse aumento esperado na inadimplência, que pode ou não se materializar. “Com a diminuição das incertezas no mercado, se a inadimplência não subir, os bancos voltam a ter apetite para oferecer crédito e diminuem as taxas para ganhar mercado”, explica.
Para ele, a redução da taxa básica não é suficiente para influir diretamente nos spreads, que deverão diminuir à medida que também se reduzam as incertezas em relação ao pagamento dos financiamentos. “E a taxa de captação caiu mais que a de aplicação nesse final de 2008, por isso é possível uma situação paradoxal em que os juros caiam, porém os spreads permaneçam estáveis”. Para ele, isso deve se manter estável, com pequenas alterações para cima ou para baixo, até o mercado ter essa definição mais clara.
Isso porque o spread é a diferença entre o custo que a instituição tem para conseguir recursos e o que é cobrado dos clientes. Em seu cálculo estão, além da inadimplência, também os impostos indiretos incidentes sobre as operações que, em 2007, chegaram a 7,81% do total do lucro bruto; o custo administrativo foi de 13,5% do total; o custo dos depósitos compulsórios chegou a 3,59% do total bruto. Sobre o total bruto ainda incidem os impostos diretos, de 10,53% em 2007, para formar o resíduo líquido dos bancos, de 26,93% do spread cobrado, naquele ano.
Na terça-feira o Banco Central divulgou que o spread médio ficou em 30,6% em dezembro, uma alta de 0,5 ponto em relação ao mês anterior. Já a inadimplência apresentou alta de 0,2 ponto percentual, para 4,4%.
Além da inadimplência, Sardenberg disse ainda que a retração do crédito influiu no aumento do lucro bruto dos bancos. Isso porque um volume menor de operações de crédito provoca elevação no custo da operação. Segundo última perspectiva da Febraban, o crédito deve ter um crescimento de aproximadamente 18% neste ano, ante 31,1% em 2008.
Alternativa
Para a Febraban, o spread não está tão alto como o demonstrado pelo Banco Central. A entidade, utilizando a mesma metodologia de cálculo do BC, ampliou a base, incluindo linhas de financiamento com prazos maiores, o que deixou o spread menor e com a curva de alta menos acentuada. A entidade alega que o número demonstrado pelo BC utiliza apenas 45,5% do total das operações de crédito do sistema financeiro nacional.
Na conta de pessoa física, a associação de bancos incluiu o leasing para veículos e o crédito habitacional, enquanto para empresas, incluiu os recursos direcionados do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), o que elevou as proporções utilizadas para, respectivamente 76,6% e 71,7% do total de crédito concedido em cada segmento. No total, a simulação chega a 73,6% do financiado no sistema financeiro. Nas linhas incluídas, a taxa final é limitada, o que condicionou à baixa do spread.
Para empresas, a diferença entre custo de captação e aplicação caiu de 18,3% em dezembro para 14%. Além disso, enquanto a diferença entre o índice BC e o Febraban estava em 2,6 pontos percentuais em junho, em dezembro a diferença ficou em 4,3 pontos, o que mostra a atenuação da alta.
A pressão do governo para que as instituições financeiras diminuam os spreads pode ser infrutífera caso se confirme a expectativa de analistas em relação à elevação da inadimplência para este ano.
Veículo: DCI