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Brasileiro quer mais tempo, eficiência e avião

 

Osmar Roncolato Pinho, do Bradesco, lembra que aeronave ainda é status, mas alerta para elevado custo operacional

O Brasil é dono de 3% do total da riqueza produzida no planeta e abriga quase 2% dos bilionários. São 18 almas. A maioria desses seletos brasileiros ou suas famílias detém fortunas com 9 zeros desde sempre. Mas o vigor da economia brasileira, em avanço de quase 8% neste ano, vem agregando bem sucedidos e decididos cidadãos que, mesmo com patrimônio mais enxuto, não hesitam em realizar sonhos de consumo. Tem gente que sonha com o “primeiro avião”, mas com foco determinado: poupar tempo e aumentar a eficiência do trabalho. É caro? Sim. Mas tem leasing para isso. E BNDES também.

“O Brasil tem se destacado como um gerador de novos milionários a cada dia. Nessa categoria estão empresários com poder de compra e necessidade de deslocamentos rápidos. Temos aí o setor varejista, concessionárias de veículos e construtoras ou incorporadoras”, relata Cássio Polli, diretor comercial da Aerie Aviação Executiva.

Sérgio Beneditti, sócio, com André Massini, da Cirrus Brasil, representante da norte-americana Cirrus Aircraft, acrescenta que os clientes de 20 anos atrás não são os mesmos dos últimos 10 anos. “O dinheiro mudou de mão. É verdade que o Brasil vem produzindo milionários, mas não vale mais o conceito de que só quem é rico tem avião. Hoje, 75% dos nossos clientes usam a aeronave como ferramenta de trabalho. Engana-se quem pensa que só pecuarista compra aeronave. Novos compradores vêm de áreas como tecnologia da informação, logística, distribuidores de alimentos e de produtos de beleza. Para se ter uma ideia da demanda do Brasil, a Cirrus começará a entregar um novo jato executivo (Vision com 7 lugares) em 2013. E dos 440 pedidos feitos no mundo, 68 são de clientes brasileiros”, relata.

Guilherme Souza, engenheiro mecânico de 26 anos que lançou há um ano o portal FlightMarket, especializado em classificados de aeronaves, prestação de serviços e empregos no setor, anima-se com o movimento. “Começamos com 50 anúncios de venda de jatos executivos e helicópteros e agora estamos com 450 e comemorando a marca de 1.100 visitantes por dia”, afirma o diretor geral do portal que divulga uma newsletter mensal para 12 mil interessados em aeronaves executivas e, neste ano, assistiu à negociação de 30 divulgadas no site.

Escritórios de advocacia e departamentos de financiamentos de longo prazo de grandes bancos também confirmam a aceleração da atividade no setor de aeronaves executivas. “Nos últimos três meses, a análise de contratos de leasing de aeronaves tomou todo o meu tempo”, conta José Luis Leite Doles, do escritório Barcellos Tucunduva. “De 2009 para 2010, cresceu em cerca de 80% o número de operações em análise. Em 2009, o mercado enfraqueceu devido à crise, mas este ano já guarda semelhança com 2008 em movimento. Lá atrás, as operações eram concentradas. Agora, são mais pulverizadas e com preços bem variados, de US$ 3 milhões a US$ 30 milhões. E acreditamos que esse leque de transações é um bom termômetro do aquecimento da economia”, comenta o advogado.

Carlos Eduardo Macariello, diretor de Ativos do Itaú Unibanco, tem visão semelhante. “O vigor desse segmento reflete o momento que o país vive. Em função da expansão econômica e dos investimentos, empresas também buscam maior facilidade para transportar funcionários, inclusive, para visitar obras. Observamos aumento nas operações de leasing de aeronaves em todos os segmentos de clientes. Claro que não é artigo de prateleira, mas as operações avançaram consideravelmente”.

Celina Sato, responsável pela área de leasing e operações de longo prazo do Itaú Unibanco, diz que a carteira de leasing de aeronaves já tem 50% de pessoas físicas e 50% de pessoas jurídicas. A carteira do Itauleasing cresceu 74% em 2010 frente a 2008. E saltou 290% em relação a 2009 – ano que não oferece bom parâmetro por conta da crise que freou os negócios.

Polli, da Aerie Aviação Executiva, lembra porém que a crise abriu incríveis oportunidades. “No exterior, principalmente nos Estados Unidos, clientes devolveram aeronaves. Em outros casos, os bancos tomaram de volta. O resultado foi um barateamento de preços de 30% a 50% em dólares. Essa redução ocorreu a partir de meados de 2009 e não se vê recuperação dos preços. Como o Brasil não estava no epicentro da crise e se recuperou rapidamente dos efeitos, o país tornou-se importante mercado consumidor de aeronaves”. Em 2008, a Aerie vendeu 14 aeronaves. Em 2009, apenas a metade desse volume. Em 2010, a perspectiva é de venda de mais 11.

Beneditti, da Cirrus, vê o mercado brasileiro de aviação executiva crescendo ano a ano, mas flutuando de acordo com o ritmo da atividade econômica. “O setor rapidamente percebe mudanças porque quando a crise aponta, o primeiro bem a ser vendido é a aeronave. E, quando o cenário melhora, o último bem a ser adquirido é exatamente um avião”.

Osmar Roncolato Pinho, diretor de empréstimos e financiamento do Bradesco e presidente da Associação Brasileira de Leasing (Abel), também vê retomada dos negócios. “É fato que existe um mercado de pessoas físicas, mas existe um mercado muito consistente de grandes produtores do setor agropecuário e indústrias. Ainda que entrem jatos executivos de US$ 20 milhões no mercado, as operações com aeronaves menores são muito numerosas. E custam bem menos, até US$ 5 milhões”.

Entusiasta da aviação, Roncolato Pinho avisa que ter avião ainda é status. “Exatamente por essa razão é necessária uma boa análise da capacidade de pagamento do comprador. O custo operacional de uma aeronave não é barato, principalmente para quem está num grande centro como São Paulo. Tem, por exemplo, o custo da ‘hangaragem’. Para alguns tipos de aeronaves não se consegue estacionar na cidade. É preciso ter espaço em cidades vizinhas. Custa caro”.

O diretor do Bradesco explica que o mercado de helicópteros também é muito importante. “A frota brasileira já é a segunda maior do mundo. E os helicópteros têm dupla finalidade. Nos grandes centros, garante locomoção rápida ao tráfego rodoviário que é incompatível com qualquer coisa nessa vida. E na exploração de petróleo, por exemplo, a utilização desse tipo de aeronave é determinante para deslocamentos de funcionários nas plataformas em alto mar. Quando deixamos os grandes centros, vai escasseando o número de helicópteros e a preferência passa a ser por aviões de pequeno porte ou os jatos executivos que têm autonomia intercontinental”.

 Veículo: VALOR – 24/09/2010